sábado, 8 de março de 2008

Quinto Império

Introdução


Neste nosso trabalho vamos fazer a análise do poema de Fernando Pessoa, “O Quinto Império”.
Vamos tentar fazer uma análise pormenorizada do poema, falando da intencionalidade de Fernando Pessoa ao usar alguns tipos de pontuação, da presença do oxímoro, dos impérios passados, entre outros...


O Quinto Império

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz-
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
A estrutura

A Mensagem está dividida em três partes. Esta tripartição corresponde a três momentos do império português: Nascimento, Realização, Morte. Mas esta morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento que será o novo império, futuro e espiritual.


Enquadramento do poema “O Quinto Império”


O poema “O Quinto Império” situa-se na terceira parte, O Encoberto( a imagem do império moribundo, a fé de que a morte contenha em si a semente da ressurreição, capaz de provocar o nascimento do império espiritual, moral e civilizacional. A presença do Quinto Império).
Nesta terceira parte aparece a desintegração, havendo, por isso, um presente de sofrimento e de mágoa, pois “falta cumprir-se Portugal “. É preciso acontecer a regeneração, que será anunciada por símbolos e avisos.
A Mensagem recorre ao ocultismo para criar o herói – O Encoberto – que se apresenta como D. Sebastião. Note-se que o ocultismo remete para um sentimento de mistério, indecifrável para a maioria dos mortais. Daí que só o detentor do privilégio esotérico (oculto/secreto) se encontra legitimado para realizar o sonho do Quinto Império.

Breve análise do poema “O Quinto Império”


As ideias fundamentais deste poema são a contradição entre a tristeza do presente e a alegria e a profecia do que será o Quinto Império.
Fernando Pessoa escreveu neste poema “Triste de quem é feliz”. A felicidade é, para o homem vulgar, uma situação de comodismo, de adaptação às normas da sociedade, por outras palavras, uma situação de quase total indiferença perante as coisas. Por isso, o poeta considera essa felicidade como tristeza. Na verdade, não é a essa felicidade que deve aspirar o herói. “ Ser descontente é ser homem”. Isto significa que, sem essa inquietação da busca, ninguém consegue alcançar valores mais elevados do espírito (“Que as forças cegas se domem/Pela visão que a alma tem!”)
Diversas vezes o poeta tem insistido na ideia de que é preciso uma coragem sobre-humana para vencer as grandes provações da vida e conquistar o espírito. O quinto império sucederá aos outros quatro, a que o autor se refere na última quadra. Mas atentemos no que o próprio Fernando Pessoa escreveu a propósito desse sonhado império num “prefácio” que escrevera um amigo, Augusto Ferreira Gomes.


A presença do oximoro e a relação deste poema com o poema “D. Sebastião” da parte do “Brasão”.

Trata-se de um poema que afirma uma filosofia sobre o Homem e o viver.
Para o poeta, e retomando o que vinha dizendo desde a primeira parte, a única coisa que faz sentido na vida é o sonho (…) sem o sonho, capaz de remover montanhas, a vida é triste, ainda que no conforto sentado do lar, (Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar).
Prosseguindo, nesta espécie de introdução, constituída pelas duas primeiras quintilhas, o poeta reincide no oxímoro, ao afirmar: “Triste de quem é feliz”. A explicação para tal afirmação paradoxal é a seguinte:
É que quem é feliz limita-se a viver por viver, porque a vida dura e enquanto dura – como se dizia no poema “ D. Sebastião” (da primeira parte – “Brasão”), “ sem a loucura que é o homem/ mais que a besta sadia/ cadáver adiado que procria?”. Para Pessoa, loucura é o sonho que impele a ir mais além. O que distingue o homem do animal é a capacidade de sonhar e de partir nas asas ou nas naus do sonho, para que a obra nasça.
Assim podemos mostrar a semelhança que existe entre este poema e o poema “D. Sebastião” da primeira parte “Brasão”, pois neste último revela que como já foi referido é preciso lutar pelos sonhos, e para a construção do quinto império só é possível se lutarmos pelo sonho.


A relação de “O QUINTO IMPÉRIO” com o segundo poema d’ “Os Avisos”

Também padre António Vieira profetizou o quinto império, escrevendo “A História do futuro”, manifestação do seu sebastianismo místico.
Neste poema Fernando Pessoa põe em evidência o valor de António Vieira como escritor: “imperador da língua portuguesa”. Pensador: “no imenso espaço seu de meditar”. Profeta do quinto império: “mas não, não é luar:é luz do étereo/é um dia; e, no céu amplo de desejo, / A madrugada irreal do quinto império / doira as margens do Tejo.


Recursos estilísticos

"Triste de quem..." - a mesma noção já encontrada em O das Quinas de que ser feliz é uma infelicidade porque se vive maquinalmente e não para o sonho ou para os cometimentos.
"a lição da raiz - ter por vida a sepultura" - na própria essência material do homem está, desde a sua origem, a inevitabilidade da morte.
"Passados os quatro tempos do ser que sonhou" - referência ao rei assírio Nabucodonosor que, segundo a Bíblia, sonhou com uma estátua de quatro metais que o profeta Daniel interpretou como uma premonição de quatro grandes impérios sucessivos, dos quais o seu era cronologicamente o primeiro.
"Que no atro da erma noite começou" - que começou nas trevas da noite deserta.
"Grécia, Roma, Cristandade, Europa" - os quatro impérios que Pessoa pensava ajustarem-se ao sonho do rei assírio.
"Vão para onde vai toda a idade" - envelhecem e morrem; desaparecem.
"Quem vem viver a verdade?" – o Quinto Império sonhado por pessoa é uma abstracção de Luz (ou Verdade, ou Cultura. todos os termos são, nesta acepção, equivalentes). A frase deve ser lida "Quem vem viver o Quinto Império?".
"Quem vem viver a verdade que morreu Dom Sebastião?" - completa, a frase torna-se uma interrogação meramente retórica, a menos que se tome "que" na acepção de "porque" ou "para a qual". Nesse caso a frase torna-se "Quem viver a verdade (do Quinto Império) para a qual D.Sebastião morreu".


Quanto aos impérios do passado eram o de Roma, o da Grécia, o da Cristandade, e o da Europa.


Grupo IV
Carlos Alberto; Hélder; Paulo; Romeu e Rui Mendes.

1 comentário:

Ana Inês disse...

Muito obrigada :) está excelente!!