sábado, 8 de março de 2008

Horizonte

Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
‘Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa –
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp’rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –
Os beijos merecidos da Verdade.

Posição do poema

O poema insere-se na Segunda parte “ Mar Português” da obra de Fernando Pessoa, onde se conta a história dos Descobrimentos. É o segundo poema desta parte e diz que para se atingir um objectivo é necessário um sonhador “ O Infante”, um sonho “Horizonte” para posteriormente dar realização a esse mesmo objectivo “ Mar Português” (conquista sobre o mar). Pessoa pretende falar nesta parte como os Portugueses chegaram à realização dos Descobrimentos, do sonho português. Neste poema o sujeito poético descreve o encantamento dos navegadores quando, ao aproximarem-se das conhecidas costas, (longe), tornavam concreto o que antes era apenas abstracto (sonho).

Análise do poema


Este poema fala da História dos Descobrimentos, trata da grande realização da pátria, que ansiava pelo desconhecido e esforçava-se na luta com o mar. Destaca-se aqui a projecção universal que os descobrimentos portugueses implicaram e os esforços sobre humanos que foi preciso desenvolver na luta contra os elementos naturais, hostis e desconhecidos. O próprio titulo do poema “Horizonte” transmite uma ideia de desconhecido, o objectivo, que apesar de longínquo, já que se vê ao longe e, com isso, fica mais fácil de o alcançar, já que é mais fácil acreditar naquilo que se vê do que naquilo que não se vê, mesmo que longe. O “Horizonte” representa o espaço-desafio do avanço da navegação, que, fascina e aterroriza ao mesmo tempo.
Este poema pode-se dividir em duas pares em que a primeira parte corresponde ás duas primeiras estrofes. Nesta parte descreve-se o encantamento dos navegadores quando, ao verem as costas desconhecidas, tornaram concreto o que antes era abstracto. Poderemos comprovar isso numa análise mais detalhada ao poema. “Ó mar anterior a nós” nesta apóstrofe verifica-se que o feito do povo navegador consistiu na transformação do mito em realidade. “teus medos”, são os medos que os navegadores tinham, medo do desconhecido, do que poderiam encontram. “tinham coral e praias arvoredos”, uma enumeração, “Desvendadas a noite e a cerração, as tormentas passadas e o mistério”, o que era desconhecido, “Abria em flor o Longe, e o Sul sidério ‘Splendia sobre as naus da iniciação”, foi desvendado, tiraram-lhe a noite( o escuro representa o medo e o desconhecido), e, passando pelas dificuldades do caminho(tormentas passadas), revelou-se enfim o seu mistério. Abriu-se esse conhecimento quando para Sul as naus dos iniciados viajaram, as naus dos portugueses.


Na segunda estrofe há uma insistência no tema abordado na estrofe de cima. “Linha severa da longínqua costa”, nesta personificação (linha severa), terras desconhecidas, mas que conseguiram ser alcançadas pelos portugueses,”quando a nau se aproxima ergue-se da encosta/ em arvores onde o Longe nada tinha/ mas perto, abre-se a terra em sons e cores:/ e, no desembarcar, há aves, flores” o que eles encontram quando chegam a terra, faz referência também ao “Longe” que era o maior obstáculo dos portugueses. “Onde era só, de longe a abstracta linha” onde antes de lá chegarem era apenas uma linha ao longe onde nada viam, um horizonte cheio de nada, com os proveitos de uma dura espera e do intenso cansaço se tornou num quadro vivo e propicio a aventuras e a novas descobertas. O abstracto torna-se concreto, com a revelação do mistério.
Na terceira estrofe que corresponde à segunda parte, fala do conceito de sonho e da sua concretização. “O sonho é ver as formas invisíveis” este oximoro (não e possível ver formas, coisas invisíveis) tornas o sonho do eu poético impreciso, tal como todos os sonhos. “ver formas invisíveis”, é captar algo que ainda não existe, algo que se pensa irrealizável. “Da distância imprecisas, com sensíveis/ Movimentos da esp’rança e da vontade”, distancia que não é nítida, tornando-os confusos, mas com esperança e vontade de lá chegar. “Buscar na linha fria do horizonte/A arvore, a praia, a flor, a ave, a fonte /Os beijos merecidos da Verdade”, nesta enumeração e polissíndeto do articulador “a”, a verdade é o ponto de chegada dos portugueses. Surge aqui como uma recompensa dos seus feitos, mas para Pessoa essa recompensa será uma recompensa espiritual, a verdade do conhecimento oculto.


Significado denotativo/conotativo do título

Horizonte – espaço da superfície terrestre abrangido pela vista; esfera celeste que limita o nosso campo de visão.
Linha do horizonte – linha de contacto aparente entre o céu e a terra.
No sentido conotativo horizonte é a ideia de desconhecido, o objectivo, que apesar de longínquo, já se vê ao longe e, com isso fica mais fácil de o alcançar. No sentido figurado significa futuro.



Tempo evocado/espaço invocado

O tempo evocado é o tempo relembrado onde neste poema o sujeito poético usa a narração do passado, uma época mesmo antes dos Descobrimentos. Fernando Pessoa no poema “Horizonte” fala do sonho que os portugueses tinham de conquistar o mar e ir para lá do Horizonte, isto é, faz uma relembrança do passado onde utiliza o tempo verbal pretérito imperfeito. As expressões que traduzem o tempo evocado são: “Ó mar anterior a nós” e “ teus medos tinham coral e praias e arvoredos”.
O espaço invocado é um espaço desejado, que neste poema traduz-se pelo sonho e pela desejo dos portugueses chegarem para lá do Horizonte, onde “Longe”, palavra expressa no texto, traduz esse mesmo desejo. O Horizonte é algo que sempre foge mas que sempre se persegue. As expressões que traduzem esse desejo de partir, de conquistar o mar, são: “Abria em flor o Longe” e “ o Sul sidério ‘Splendia sobre as naus de iniciação”.

Confronto das duas concepções de mar

Uma concepção de mar abordada no texto é o “ mar anterior a nós”, ou seja, o mar antes dos portugueses o terem descoberto, o mar desconhecido e sonhado por os portugueses. Esta concepção de mar confronta-se com outra das concepções de mar referidas no poema que é o mar descoberto pelos portugueses com o desejo de atravessar a linha do horizonte, como se pode observar na expressão “ Buscar na linha fria do horizonte a árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte – Os beijos merecidos da Verdade.”.



Léxico associado à ideia de viagem

O léxico é o conjunto de palavras que traduzem um conceito, que neste caso é viagem. O conjunto de palavras é: “ As tormentas passadas”; “ Longe”; ” Sul sidério”; “ naus de iniciação” ; “encosta”; “ desembarcar” ; “ movimentos” e “ horizonte”. Todas estas palavras traduzem o conceito de viagem, movimento. O sujeito poético usa estas palavras para nos remeter ao passado e ao facto de após ter existido o sonho deu-se a realização deste mesmo numa viagem feita pelos portugueses.



Progressão do poema em termos das dicotomias:
a) Concreto/ abstracto;
b) Conhecido/desconhecido

O poema segue um movimento de cima para baixo, isto é, o sujeito poético no poema descreve a passagem do abstracto para o concreto. Na primeira estrofe encontra-se uma referência ao abstracto, “mistério”, algo intocável, algo invisível que se torna concreto na segunda estrofe, “ encosta”, traduz o real, algo que existe. Pessoa descreve o encantamento dos navegadores quando, ao aproximarem-se de desconhecidas costas, tornavam concreto o que antes era apenas abstracto (“mistério”). Na terceira estrofe o sujeito poético passa novamente do abstracto “sonho” para o concreto ”Os beijos merecidos da Verdade”. O sonho é algo que não existe até ser concretizado, lá os beijos merecidos da verdade são as recompensas ou o real que torna o sonho algo de concretizado, concreto. Também em termos do desconhecido/conhecido o poema segue um movimento que parte do desconhecido, terras desconhecidas, onde se encontravam no longe, para o concreto, terras conhecidas onde os portugueses desembarcaram e passaram a desvendar e dar conhecimento ao que antes era desconhecido. Mais uma vez na terceira estrofe se passa do desconhecido “ sonho” para o conhecido ”a árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte”. O sonho neste poema é referido como o desejo de alcançar o desconhecido, ”da distância imprecisa” e que ao atravessar a “linha fria do horizonte” se encontre o que os portugueses iriam conhecer, como praias, aves e fontes.



Definição de sonho

O sonho neste poema encontra-se num oximoro “O sonho é ver as formas invisíveis”. Para os portugueses o sonho é conhecer o que era desconhecido, numa “ distância imprecisa”, isto é, uma distância em que se sabe que está longe, mas que nunca sabemos onde terminará, daí estar a comparar com a “linha fria do horizonte”, que é algo que nós vemos, mas que nunca a conseguimos alcançar. As pessoas acreditam mais naquilo que se vê do que aquilo que não se vê, mas que existe. Na terceira estrofe podemos retirar cinco símbolos da vida importantes, “a árvore”, ”a praia”, “a flor”, “a ave” e ”a fonte”. A árvore, que simboliza a vida em perpétua evolução, onde existem três níveis de comunicação: o nível subterrâneo por meio das raízes, o nível à superfície da terra através do tronco e o nível elevado por intermédio da copa e dos ramos superiores; ela representa a relação entre o mundo superior e o mundo inferior. Esta interpretação pode estar relacionada com o sonho, pois este também se pode dividir em três níveis de existência: o seu nascimento que o torna impreciso, sem formas nítidas; o seu desenvolvimento, onde já são traçados alguns objectivos; e a sua morte, em que deixa de ser sonho e passa a ser uma realidade.
A praia é uma zona de extenso areal que simboliza a libertação. Talvez a libertação do sonho, quando este ganha asas da imaginação ou quando ele se liberta precisamente para a sua concretização. A flor é a imagem do amor e da harmonia. Símbolo da infância e, de certo modo, do estado édenico (paraíso), em que o sonho, possivelmente, pode ser uma imagem do nosso desejado paraíso. A ave que se opõe à serpente é o símbolo do mundo divino, talvez do sonho. As aves simbolizam os estados espirituais, os estados superiores do ser, assim como o sonho. Por último, a fonte simboliza a origem da vida. É a imagem da alma, origem da vida interior e da energia espiritual. Também o sonho pode ser considerado a vida, muitas vezes a sua origem e a imagem da alma.
Pode-se concluir então que o sonho é como uma segunda vida para nós.



Maiusculização das palavras “Longe” e “Verdade”

A atribuição de maiúsculas às palavras “Longe” e “Verdade” deve--se ao facto do sujeito poético querer reforçar os seus significados. O Longe que nos sugere as grandes esperanças dos portugueses, o tentar alcançar os seus objectivos, o horizonte importante de ser desvendado e de ser atingido, esta palavra é reforçada também no sentido de longínquo, mas, contudo e por fim, se abre em flor, isto dá-nos a ideia de todas as conquistas realizadas pelos portugueses. A Verdade, neste poema significa o real, o que foi descoberto pelos portugueses. Estas duas palavras estão relacionadas visto que é no “Longe” que está a “Verdade”, isto é, é na viagem em direcção ao longe, ao destino, ao que nós sonhamos que vamos encontrar a verdade, o que é real, a concretização do sonho.


Aproximações do poema pessoano ao poema camoniano

O poema pessoano relaciona-se com a epopeia camoniana através do sonho descrito no poema “Horizonte” da “Mensagem” e concretizado no canto VI d’ ”Os Lusíadas”. O sonho era descobrir as novas terras que até à data era desconhecidas e Camões diz que esse sonho foi realizado com a chegada dos portugueses à Índia (Calecut). Os perigos ultrapassados de que fala Pessoa “teus medos”; “As tormentas passadas”; “mistério”; “Longe”; “se aproxima ergue-se a encosta”; “Movimentos da esp’rança” e “Os beijos merecidos da Verdade” são evidentes em Camões através das expressões “Já fora de tormenta e dos primeiros mares”; “o temor vão do peito voa”; “Vosso trabalho longo aqui fenece”; “Sofrer aqui não pôde o Gama mais”; “Que não somente a terra lhe mostrava”; “com tanto temor, buscando vinha”; “Por quem tanto trabalho experimentava”; “vento duro, férvido e medonho”; “Mas via-se livrado, … da morte”; “a terra que buscais da verdadeira Índia, que aparece”; “Terra é de Calecu”; “A mercê grande a Deus agardeceo”. Os portugueses sonharam, passaram os perigos, descobriram o horizonte e tiveram a recompensa. É o mesmo que nós temos de fazer, sonhar, passar os perigos, ”Longe”, com, “ as armas”, a nossa inteligência descobrir o horizonte, o futuro, o nosso objectivo, a “Verdade” e recebermos a recompensa que é o 5ºImpério. É preciso sonhar para criar o 5ºImpério.



Objecto

O objecto que escolhemos foi a Lua, ou melhor um objecto que represente a lua. Escolhemos este objecto porque o comparamos com o horizonte e relacionamos com o V Império. O horizonte foi para onde os portugueses olharam e sonharam em lá chegar e trabalharam para isso e conseguiram através da sua inteligência mas principalmente pela sua força e coragem. A lua era também algo para onde se olhava e alguém sonhou em lá chegar, já que se via, apesar de estar longe, pensou-se ser possível alcança-la e foi mesmo, através de estudos feitos que exigiam muito conhecimento e determinação. Pensamos que se sonhar-mos, como sonhamos para os descobrimentos e se sonhou para chegar á lua, também nós conseguiremos chegar ao V Império, através do conhecimento e investindo mais de nós próprios para isso, apesar de não ser algo que se veja. Basta sonhar! Como Pessoa dizia: ”Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.


Música


Luís Represas – Linha Da Frente


Caminha e sente os pés
Que a areia é fria e dura
Não olhes para trás
Que o mar nada perdura
A onda apaga os traços
E limpa o que foi rasto
Deixando p´ra quem chega
Lugar p´ra novos passos

Não tenhas esperança
Outra vez
Que a esperança é senhora
De quem já
Perdeu os caminhos,
De quem já não sabe lutar.

Com uma espada feita
De sonhos cravejada
Enfrentas as miragens
Sem tempo p´ra pensar
E se o medo te assalta
É p´ra te despertar
Para o que desconheces
Mas queres conquistar.

Tens a espada e tens o medo
Tens o tempo e o caminho
Esquece a esperança ali sentada
Sem ter esperança de morrer.
Tens a força de quem sabe
E o encanto de quem quer
E poder fazer que a esperança
Seja a primeira a morrer

Escolhemos esta musica porque de certa forma achamos que relaciona-se com o põem a e podemos também tê-la como referencia para construir-mos o V Império, e porque fala de mar.
Passamos assim a explicar com alguns versos da música. Para construirmos o V Império é preciso coragem de seguir em frente, não desistir a meio do caminho, “Não olhes para trás”.
” E limpa o que foi rasto
Deixando p´ra quem chega
Lugar p´ra novos passos” , lugar para novos passos, V Império.
“Não tenhas esperança
Outra vez
Que a esperança é senhora
De quem já
Perdeu os caminhos,
De quem já não sabe lutar. “

Não ter esperança, neste contexto achamos que será que apesar de já ter perdido “caminhos” não devemos desistir, de ficar à espera de quem faça algo e façamos nós algo. Ou seja não devemos esperar que venha alguém construir o V Império mas tentar sermos nós a construí-lo. Ultrapassando os obstáculos “Enfrentas as miragens “, mesmo com alguns medos daquilo que não conhecemos.
“E se o medo te assalta
É p´ra te despertar
Para o que desconheces
Mas queres conquistar”, mas tendo o sonho de lá chegar e conquistar o desconhecido.
“Tens a espada e tens o medo
Tens o tempo e o caminho “
Temos a espada, a força e o caminho, como referido no poema o “longe”, mas que podemos alcançar.
“E o encanto de quem quer “ se quisermos e acreditarmos conseguimos chegar onde quisermos. Acreditamos e conseguimos descobrir o desconhecido, se voltarmos a acreditar podemos chegar ao V Império, basta ter o sonho, o sonho é o que nos move.

Grupo I
Ana Leite; Cátia Ferreira; Joana Sousa e Sara Alves

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