sábado, 8 de março de 2008

´Screvo meu livro

Localização

A “Mensagem” é constituída por três partes e cada uma delas tem sub-capítulos.
A primeira parte é o “Brasão”, onde desfilam os heróis lendários, desde Ulisses a D. Sebastião. É constituída por cinco sub-capítulos, “Os Campos”, “Os Castelos”, “As Quinas”, “A Coroa” e “O Timbre”.
A segunda parte é o “Mar Português”, com poesias inspiradas na ânsia do Descobrimento e o esforço heróico da luta contra o mar.
A terceira parte é o “Encoberto” e tem como epígrafe “PAX IN EXCELSIS”, que significa "paz nas alturas". O seu tema é o Quinto Império e o Desejado que há-de vir para o tornar realidade. Tem três partes, a primeira, “Os símbolos” trata da simbologia do tema, D. Sebastião, o rei que morreu na terra, mas nasceu para o mito com a promessa, que outros firmaram por si, de voltar para conduzir a nação à glória. O segundo sub-capítulo, é “Os Avisos” é de interpretação mais imediata, tratando daqueles que anunciam a vinda do “Messias” português. O terceiro e último sub-capítulo é “Os Tempos”.
O poema “ ’Screvo meu livro à beira mágoa” está localizado no “Encoberto”, no sub-capítulo “Os Avisos”.

Considerações sobre a “Mensagem”

Fernando Pessoa começou a sua obra com referências a Camões. O poeta fez isso pois acreditava que um Supra-Camões viria, e ele acreditava que pudesse ser ele mesmo, para transformar o medíocre em grandioso e guiar a pátria portuguesa no caminho da dignidade merecida, mas que ainda não lhe foi possível alcançar.
"A história do futuro", Padre António Vieira, foi uma obra destinada e explanar como Portugal seria a fonte de onde nasceria o Quinto Império, e que este não seria um Império de força e terras, mas sim um Império Espiritual. O título da obra é explicado se se atentar que o autor pretendia ir buscar ao passado, o futuro inevitável da raça lusitana, pois de feitos passados se ergue um futuro por nascer...
O ponto central da ligação da "História do Futuro" com a “Mensagem” é o Sebastianismo. Vieira fez nascer o mito sebastianista feito esperança e renascimento. Pessoa colhe o testemunho, e chama a Vieira “O Grão-Mestre da Ordem Templária de Portugal”. Trata-se de uma ordem imaginária, de que Pessoa se considera um iniciado.
Fernando Pessoa neo-pagão, porque acredita mais nas forças dos homens do que nas forças dos deuses, refuta Jesus por não ser uma figura nacional, mas estrangeira.
O mito sebastianista é porventura o mais complexo e o mais simples de todos aqueles que assombram a história da nacionalidade. Trata-se de um drama histórico, que naturalmente fez nascer sentimentos românticos e saudosistas, no lado da simplicidade, tal como um drama psíquico, fazendo nascer questões mais profundas, questões que dizem respeito ao ser mais íntimo. Pessoa é poeta, sem dúvida, mas o seu tratamento do sebastianismo não é poético, pois ele trata, a questão do mito enquanto assombração da alma portuguesa, a perda da identidade nacional, a perda de independência e restauração de valores antigos. Para Pessoa seria possível buscar uma fé na figura tornada mito do Rei desaparecido, porque Portugal se identificará perfeitamente. Portugal, uma vez grande, que na juventude qual rei-menino se aventurará na guerra, fazendo a sua própria vida e lema de honra e nobreza em nome de valores mais altos que o homem. O Rei, a Nação, que se prende na noite, decadência, renascerá na manhã de nevoeiro.
Na terceira parte, D. Sebastião é já divinizado, surge o Quinto Império do espírito, noutro símbolo, D. Sebastião é desejado, que regressa com o Santo Graal, a nova religião que ele mesmo vai representar. Mais à frente, n’ Os Avisos, Portugal é definido por esse nevoeiro que ainda permanecia sobre todas as coisas. Nevoeiro, dispersão, névoa, esperanças sem um guia perdidas.
O Sebastianismo de Pessoa não é lírico, como o Camoniano, porque se erige a crença na espera do Encoberto, sabe que a esse regresso será um regresso em carne.

Análise do Poema
“ ‘Screvo meu livro à beira mágoa”

O poema “ ‘Screvo meu livro à beira mágoa” é o único poema da “Mensagem” que não possui nome. Fernando Pessoa fala como sucessor do Bandarra e do Padre António Vieira, pois também ele anuncia a boa nova, o advento do Rei que conduzirá Portugal ao Quinto Império. Este poema se tivesse nome certamente chamar-se-ia “Fernando Pessoa” e por isso não o tem: o poema teria esse nome, pois em todo ele o sujeito poético fala dele próprio.
O poema é constituído por cinco quadras com versos octossilábicos e rima cruzada do tipo ABAB, sendo a maioria acentuadas na quarta e oitava sílaba.
Trata-se de um poema, sebastianista, em que o poeta, nos limites da mágoa, apenas consegue preencher os seus dias no refúgio do mito sebastianista, que há-de vir e realizar um sonho português de muitas eras.
O poema pode dividir-se em duas partes. A primeira parte, abrange os seis primeiros versos, em que o poeta nos diz da sua tristeza, nos três primeiros versos, e do único lenitivo para a sua dor, a crença num “senhor” que é a única entidade capaz de lhe devolver a confiança no futuro e preencher seus “dias vácuos” (sexto verso). A segunda parte é iniciada com a conjugação “mas” (sétimo verso) e constituída por uma série de perguntas introduzidas por “quando” e dirigidas a essa entidade mítica que toma vários nomes, tais como: Rei, Hora, Cristo, Encoberto, Sonho, Senhor, apelando para a sua vinda rápida, única forma de materializar sonhos centenários e de o poeta se poder libertar do contingente, do incerto e de alcançar uma “nova terra” e “novos céus”.
Na primeira parte predomina o presente do indicativo para traduzir permanência, são utilizadas frases do tipo declarativo. A maiúsculização da palavra “Senhor”, e a relação Eu-Tu e existência de dois adjectivos bastante expressivos e de certo modo causativamente relacionadas, “dias vácuos” (sexto verso), que são dias vazios e monótonos, “olhos quentes de água” (terceiro verso) é igualmente importante na primeira parte.
A segunda parte caracteriza-se por um conjunto de interrogativas introduzidas por “quando”, em que o poeta interroga ansiosamente o seu presumível interlocutor sobre a Hora da sua vinda, apostrofando-o, agora, como o “Encoberto” e usando várias vezes a perífrase para o designar ao descrever como é o caso de “Quando virás a ser Cristo? / De a quem morreu o falso Deus,”, “Sonho de eras português,” e “Quando, o meu Sonho e meu Senhor?”. Na segunda parte predomina o futuro, porque é só nele que o velho sonho do poeta poderá vir a tornar-se realidade.
O sujeito poético utiliza maiúsculas como forma de abastractização e sugestão sebastianista, a interrogação “quando” dá-nos conta da inquietação, angústia do sujeito, pois vê numa personagem mítica a possibilidade de ultrapassar as contingências do passado e frustrações e o tédio do presente. Utiliza ainda a anástrofe “Sonho de eras português,”, o hipérbato na terceira estrofe “E a despertar do mal que existo, / A nova Terra e os Novos Céus”. A metáfora é utilizada para ultrapassar o sentido real das palavras para lhes emprestar um sentido imaginário.
Este poema enquadra-se na obra pessoana, pois faz referência ao mito sebastianista e fala do próprio sujeito poético, ou seja, Fernando Pessoa.

Objecto e Música

Para o nosso poema, existem dois objectos que poderão ser apresentados, a Bíblia, porque em todo o poema o sujeito poético faz referência a Deus, como é o caso: “Quando virás a ser o Cristo / De a quem morreu o falso Deus” e “De um grande anseio que Deus fez?”. O poema tem também uma valente metafísica, daí a escolha da Bíblia como um dos objectos. O segundo objecto, será “Os Lusíadas”, pois este foi a “inspiração” de Fernando Pessoa, foram dedicados a D. Sebastião, em toda a obra a “Mensagem”.


A música que escolhemos para este poema, é “Por quem não esqueci” do grupo Sétima Legião. Escolhemos esta música porque faz referência a saudade, a espera de alguém que não vai voltar. Nós associamos esse alguém a D. Sebastião. A letra fala-nos da noite, essa noite para nós e o nevoeiro, pois esperamos que D. Sebastião chegue por entre o nevoeiro.




“Por Quem Não Esqueci”
Sétima Legião

Há uma voz de sempre,
Que chama por mim.
Para que eu lembre,
Que a noite tem fim.

Ainda procuro,
Por quem não esqueci.
Em nome de um sonho,
Em nome de ti.

Procuro à noite,
Um sinal de ti.
Espero à noite,
Por quem não esqueci.

Eu peço à noite,
Um sinal de ti.
Quem eu não esqueci...

Por sinais perdidos,
Espero em vão.
Por tempos antigos,
Por uma canção.

Ainda procuro,
Por quem não esqueci.
Por quem já não volta,
Por quem eu perdi.

Procuro à noite,
Um sinal de ti.
Espero à noite,
Por quem não esqueci.

Eu peço à noite,
Um sinal de ti.
Quem eu não esqueci...

Procuro à noite,
Um sinal de ti.
Espero à noite,
Por quem não esqueci.

Eu peço à noite,
Um sinal de ti.
Quem eu não esqueci...

Grupo V
Bruno; Joana Martins; Priscila e Rute.

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