sábado, 8 de março de 2008

Nun´Álvares Pereira

Introdução

No trabalho irá ser feita uma análise ao poema de Fernando Pessoa, inserido no livro “A Mensagem”.
Será apresentada uma análise geral, situando o poema na obra e uma análise de acordo com os tópicos de leitura (principal objectivo deste trabalho). Como o poema glorifica um herói haverá uma pequena biografia do mesmo.
A importância de comparar o poema com algumas passagens de “Os Lusíadas” também não foi esquecida, então haverá um pequeno quadro que liga a obra de Pessoa, à obra de Camões…




Nuno Álvares Pereira (biografia)

Nasceu a 24 de Junho de 1360 na Sertã. Casou com Leonor Alvim em 1377, na Azambuja, tendo gerado uma filha, Beatriz Pereira de Alvim.
A 14 de Agosto de 1385, Nuno Álvares Pereira mostra o seu génio militar, ao vencer a batalha de Aljubarrota, à frente de um pequeno exército de 6000 portugueses e ingleses contra 30000 tropas castelhanas, utilizando a famosa táctica do quadrado. A astúcia de Nuno Álvares Pereira, ao utilizar esta táctica, foi muito importante na história de Portugal, pois evitou que o país caísse nas mãos de Castela e perdesse a sua independência.
Após a morte de sua mulher, tornou-se carmelita entrando na Ordem em 1423, no convento do Carmo, adoptando o nome de irmão Nuno de Santa Maria. Aí permaneceu até a morte, ocorrida em 1 de Novembro de 1431, com 71 anos.
Foi beatificado em 23 de Janeiro de 1981 pelo papa Bento XV…


Nun' Álvares Pereira


Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!


Este poema surge na primeira parte do livro “a mensagem” de Fernando Pessoa….O “Brasão” é a primeira das três partes do livro Mensagem, de Fernando Pessoa. O título “Brasão” não foi escolhido por acaso, sendo brasão uma representação que se utiliza de símbolos a fim de identificar famílias, indivíduos ou regiões por seus atos de nobreza e heroísmo. Neste título, Pessoa busca identificar de onde vem a nobreza de Portugal.

“Brasão” inicia-se com a expressão em latim “Bellum sine Belo”, que
significa “guerra sem armas”. É dividido em cinco partes: I. Os Campos; II.
Os Castelos; III. As Quinas; IV. A Coroa e V. O Timbre. O poema que iremos analisar está na quarta parte, “A Coroa”.
A coroa é um símbolo de poder e autoridade dos governantes, desde os
tempos pré-históricos. Mas a coroa também era dada ou posta a indivíduos
que não eram monarcas, em cujo caso a coroa era símbolo de grandes
feitos heróicos ou conquistas de coragem. Por uma razão de orgulho e
nobreza, Pessoa deu a coroa a Nuno Álvares e não a um rei ou príncipe.


No poema Fernando Pessoa refere uma auréola. A auréola que cerca Nuno Álvares Pereira é, ao mesmo tempo, uma
auréola de santidade (do guerreiro tornado monge) e uma auréola de
combate (“é a espada (…) volteando”). Quer ele dizer que a santidade que
ele alcançou, foi a custo também dos seus actos de guerreiro, pois é a sua
espada que desenha o círculo diáfano por cima da sua cabeça,
destacando-o – santo – do comum dos homens.

Conhecendo-se a origem da auréola que cerca Nuno Álvares Pereira -
a espada - na segunda estrofe, Pessoa fala-nos sobre essa mesma espada.
Diz-nos que a espada “que, erguida / Faz esse halo no céu” não é uma
espada qualquer, não é a espada de um comum cavaleiro,mas “é Excalibur,
a ungida”, a espada do “Rei Artur”.
Pessoa pede a Nuno Alves Pereira, nos dois últimos versos, que erga a
luz da sua espada “para a estrada se ver”, para sabermos que caminho
seguir no futuro.


Concluída uma análise geral sobre o poema, será agora apresentada uma interpretação de acordo com os tópicos de leitura que requerem não só uma análise sobre Fernando Pessoa, mas também uma relação poema/imagem, uma comparação entre a obra Pessoana e a obra Camoniana e o uso de determinados recursos estilísticos.


Na primeira parte da obra, “Brasão”, Fernando Pessoa faz referência a personagens históricas e mitícas, daí a presença de Nuno Álvares Pereira como líder preparado para a batalha, o guerreiro perfeito.
Por isso, na Mensagem, Pessoa exalta o valor incomparável de Nuno Álvares Pereira. O facto de existir uma parte no “Brasão”, que é “ A Coroa”, destina-se apenas ao poema de Nuno Álvares Pereira, enaltece ainda mais a sua pessoa. Também Camões faz referência, explicita ou implicitamente, a Nuno Álvares Pereira 14 vezes em “Os Lusíadas”.

Pessoa começa o poema com uma interrogação retórica acerca daquilo de que é feito Nuno Álvares Pereira. Os restantes versos da primeira estrofe são como respostas à questão inicial. Nesta estrofe, Fernando Pessoa chega a afirmar que o valor de Nuno Álvares Pereira é maior que o do rei Artur, já que o primeiro passou de realidade a mito (foi beatificado), este ùltimo é apenas um mito que muitos afirmam ter sido realidade. Para além disso, assim como Rei Artur foi predestinado para empunhar a Excalibur, também Nuno Álvares Pereira o foi para empenhar a sua espada, que o guiou na batalha, a ungida.
Os dois ultimos versos do poema, podem ser vistos como um conselho dado aos portugueses: se querem ser vitoriosos devem seguir o exemplo de Nuno Álvares Pereira, usando a exclamação final como um pedido para Nuno Álvares nos indicar o caminho a seguir para o império que há-de vir.

Tudo isto se pode comparar com “Os Lusíadas”. Na primeira parte, o ideal de guerreiro, por um lado ser forte e robusto fisicamente, por outro conhecedor da arte e inteligente. Na segunda parte existe uma semelhanca já que Camões manifesta a importância de Nuno Álvares para Portugal (“mas não vês quase já desbaratado/ o poder Lusitano, pela ausência/ Do capitão devoto, que, apertado,/ Orando invoca a suma e trina Essência?”)

Quanto a relação da imagem com o poema, esta é de autoria de Luciano Freire que, no fundo, ilustra tudo o que o poema diz.
A imagem tal como o poema faz como ponto de referência a espada que é um dos símbolos da grandeza de Nuno Álvares, a espada que apenas pode ser usada só por alguns, e so guerreiros miticos como Rei Artur e Nuno Álvares é que são destinados a usá-la.
Na pintura surge também uma coroa, coroa esta que como já referido, é simbolo de feitos heróicos e apenas para pessoas que fazem actos heroicos. E não apenas para monarcas.
Ainda é visivel como fundo, uma batalha, que muito possivelmente quer retratar a o grande acto de Nuno Álvares, que foi sair vitorioso da batalha de Aljubarrota.


Os Lusíadas

Viagem, aventura, risco (elementos viris)
D. Sebastião físico
Império terreno
Evocação
Portugueses
(um império que já não é)



A Mensagem

D. Sebastião mítico
Elemento onírico
O encoberto
O desejado
Império Espiritual
Invocação
Atitude Metafísica
Essência de Portugal
Abstracção

O projecto da Mensagem é o de superar o carácter obsessivo e nacional d’Os Lusíadas no imaginário mítico-poético nacional. Os Lusíadas conquistaram o título de “evangelho nacional” e foram elevados à categoria de símbolo nacional. A Mensagem logo no seu título aponta para um novo evangelho, num sentido místico, ideia de missão e de vocação universal. O próprio título indicia uma revelação, uma iniciação.
Pessoa previa para breve o aparecimento do “Supra-Camões” que anunciará o “Supra-Portugal de amanhã”, a “busca de uma Índia Nova”, o tal “porto sempre por achar”. A Mensagem entrelaça-se, através de um complexo processo intertextual, com Os Lusíadas, que por sua vez são já um reflexo intertextual da Eneida e da Odisseia. Estabelece-se portanto um diálogo que perpassa múltiplos tempos históricos. Pessoa transforma-se num arquitecto que edifica uma obra nova, com modernidade, mas também com a herança da memória.
Em Camões memória e esperança estão no mesmo plano. Em Pessoa, o objecto da esperança transferiu-se para o sonho, daí a diferente concepção de heroísmo.
Pessoa identifica-se com os heróis da Mensagem ou neles se desdobra num processo lírico-dramático. O amor da pátria converte-se numa atitude metafísica, definível pela decepção do real, por uma loucura consciente. Revivendo a fé no Quinto Império, Pessoa reinventou um razão de ser, um destino para fugir a um quotidiano absurdo.
O assunto da Mensagem é a essência de Portugal e a sua missão por cumprir. Portugal é reduzido a um pensamento que descarna e espectraliza as personagens da história nacional.
A Mensagem é o sonho de um império sem fronteiras nem ocaso. A viagem real é metamorfoseada na busca do “porto sempre por achar”.


“A Mensagem comparada com Os Lusíadas é um passo em frente. Enquanto Camões, em Os Lusíadas, conseguiu fazer a síntese entre o mundo pagão e o mundo cristão, Pessoa na Mensagem conseguiu ir mais longe estabelecendo uma harmonia total, perfeita, entre o mundo pagão, o mundo cristão e o mundo esotérico.” (Cirurgião: 1990,19)

“A Mensagem é algo mais, muito mais, que uma mera viagem temporal e espacial pela mitologia, pré-história e história de Portugal. É essencialmente uma viagem pelo mundo labiríntico dos mistérios e dos enigmas e dos símbolos e dos signos secretos, em demanda da verdade.”
Cirurgião, António, 1990 O olhar esfíngico da Mensagem de Fernando Pessoa
INLC, Ministério da Educação


A Mensagem reparte-se em dois vectores:

Busca ôntica – procura da essência da lusitanidade e definição da nossa idiossincrasia
Inquirição – questionação do momento histórico e definição do que fazer a seguir como projecto nacional colectivo

Pessoa é um exemplo desta obsessão nacional – a espera de um Messias. A história de Portugal não oferece problemas à elaboração de um mito nacional. Ela está cheia de elementos e contém já um grande mito, o sebastianismo. Pessoa distinguiu o seu sebastianismo, apelidando-o de racional. O regresso de D. Sebastião é associado ao aparecimento do Quinto Império. Pessoa abandona os Impérios materiais para elaborar impérios espirituais – Grécia, Roma, Cristandade, Europa pós-renascentista e, agora, Portugal. O Quinto Império já estava escrito nas trovas do Bandarra e nas quadras do Nostradamus. O nacionalismo tradicional é superado por um nacionalismo cosmopolita.
Pessoa, criador do fundo e da forma do mito, anuncia-se como um supra Camões. A realidade é activada pelo Mito (força catalizadora).


Grupo IV
Carlos Alberto; Hélder; Paulo; Romeu e Rui Mendes

4 comentários:

Unknown disse...

obrigado professor ;) @

Unknown disse...

Que nota é que tiveram?

Unknown disse...

Incrível! Parabéns pelo trabalho! Ficou Maravilhoso! Saudações brasileiras...

Lucas Pacheco

Unknown disse...

http://ideiaspoligraficas.blogspot.com/2014/06/a-portugal-em-desprezo-de-valores.html

boa fonte!