segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

D. Sebastião

“D. Sebastião, Rei de Portugal”


Ø Biografia de D. Sebastião:

D. Sebastião, filho único e descendente de D. João de Portugal, foi muito novo para África com o intuito de retornar à glória passada, de consolidar a figura real no acto governativo e de conquistar a terra dos infiéis, em nome de Deus.
Em virtude de ser um herdeiro tão esperado para dar continuidade à Dinastia de Avis, ficou conhecido como “O Desejado”; alternativamente, é também lembrado como “o Encoberto” ou “O Adormecido”, devido à lenda sebastianista.
Durante a infância do jovem rei, este foi educado por jesuítas, tornando-se num adolescente de grande fervor religioso, que passava muito tempo em jejuns e o resto em caçadas.
Devido a toda esta educação, D. Sebastião desenvolveu uma personalidade mimada e teimosa, dada a sua posição de rei, aliada a sua convicção de que seria o capitão de Cristo numa nova cruzada contra os Mouros do norte de África.
A quando da maioridade, D. Sebastião, já tinha iniciado a preparação da expedição contra os marroquinos. Ignorando os conselhos dos seus generais, rumou a África, nomeadamente, a Marrocos, e encaminhou-se para o interior, sofrendo uma penosa e humilhante derrota em Alcácer-Quibir, perdendo uma boa parte do seu exército, e possivelmente foi nesta batalha que D. Sebastião foi morto.
A morte de D. Sebastião originou uma crise em Portugal, pondo em perigo a independência.
Após sua morte D. Sebastião tornou-se, então, numa lenda “O Rei Dormente” que iria regressar para ajudar Portugal nas suas horas mais sombrias.



Ø Localização do poema na obra:

O poema está localizado na primeira parte “Brasão”- da Mensagem (colectânea de poemas de Fernando Pessoa, escrita entre 1913 e 1934, data da sua publicação.). Dentro desta integra-se em “As Quinas”.
Esta obra (“Brasão”) contém poesia da índole épico-lirica participando assim das características destes dois géneros. Relativamente à sua matriz épica devemos destacar o tom de exaltação heróica que percorre esta obra; a evocação dos perigos e dos desastres bem como a matéria histórica ali apresentada.


Ø Exploração do poema da “Mensagem”:

Nesta parte da obra que nos propomos analisar aborda-se a origem, a fundação, o princípio de Portugal. O título “D. Sebastião” remete-nos para um momento importante na nação, assumindo D. Sebastião um papel importante na decisão tomada de avançar para a conquista de África.
Em termos formais, constatamos que o poema é constituído por duas estrofes, de cinco versos (quintilhas).
Quanto ao metro e ao ritmo os versos são irregulares. Os versos variam entre seis sílabas métricas, as oito e as dez. A rima varia entre rica e pobre, predominando não obstante a pobre e obedece ao seguinte esquema rimático: ababb, com rimas cruzadas e emparelhadas. A alternância do ritmo possibilita a emissão de uma reflexão do próprio rei e o incitamento que dirige aos destinatários.

Na nossa opinião, o poema poderá dividir-se em duas partes: a primeira corresponde à primeira estrofe e a segunda parte à segunda estrofe.
Na primeira, o sujeito poético faz uma auto-caracterização como “louco”; na segunda faz uma apologia da loucura, um elogio, exortando a que os outros dêem continuidade ao seu sonho.
Na primeira estrofe o poeta encontra a base da loucura na grandeza (a febre do além, o sonho, o ideal), que assume com orgulho. Em consequência dessa loucura, o herói encontrou a Morte em Alcácer Quibir (perífrase)[1]. Apesar disto a loucura tem neste poema uma conotação positiva, já que se liga ao desejo de grandeza, à capacidade realizadora, sem a qual o homem não passa de um animal. Veja-se ainda na primeira estrofe a referência ao ser histórico “ser que houve” que ficou na batalha de Alcácer Quibir, onde encontrou a destruição física, e a distinção deste com o ser mítico “não o que há”, que sobreviveu pois é imortal, é a ideia-símbolo, o sonho que fecunda a realidade. Este perdura na memória colectiva, por exemplo.

Na segunda parte, o poeta lança um repto aos destinatários, fazendo um apelo à loucura e à valorização do sonho. Deve portanto dar-se asas à loucura como força motora da acção. Trata-se de um apelo de alcance nacional e universal.
Este elogio por parte do poeta é a referência ao mito sebastianista, força criadora, capaz de impelir na nação para a sua última fase, que está aqui em questão.
O repto permite aos destinatários considerarem a grandeza do Rei suficiente para todos.
A utopia[2] foi e sempre será a força criadora de novos mundos, quer a nível individual quer a nível colectivo. “ Sem ideal cai-se no viver materialista”.
A interrogação retórica com que termina o poema aponta precisamente para a loucura como força criativa que poderá ser canalizada para a reconstrução nacional.
Sem o sonho “ a loucura “, o homem não se distingue do animal. É através do sonho que o homem é capaz de seguir em frente sem temer a própria morte. Assim, o homem deixará de ser apenas um animal sadio ou reprodutor, com a morte adivinhada.


Ø As recorrências lexicais:

O sujeito poético fala na primeira pessoa.
As referências lexicais são: “ Louco, loucura, haver (há e houve) e minha.”
Referências como “louco e loucura” referem-se à vontade que D. Sebastião tinha de conquistar feitos gloriosos e difíceis.
Quanto a “minha”, tem a ver com o seu maior sonho, ou seja, andar à conquista.


Ø A maiusculização da “Sorte”:

De um modo geral, a palavra “Sorte” vem escrita com letra maiúscula, pois não se refere à sorte, de ter sorte. No poema refere-se ao Destino/Fado, daí que tem uma importância maior.
As pessoas devem guiar-se pelo Destino/Sorte, mas no entanto elas têm um papel muito importante na construção do seu próprio caminho.


Ø Oposição pretérito/presente:
Em “…porque quis grandeza/ qual a Sorte a não dá”, indica a grandeza, o poder, os títulos que D. Sebastião queria conquistar, mas cuja “sorte”, cujo destino, não lho trouxe.
Quando diz “Ficou meu ser que houve, não o que há”, refere-se ao facto de o seu mito ainda persistir e que ainda se espera a aparição d’ El Rei Conquistador.

Ø Funcionalidade do conjuntivo na segunda estrofe:

O conjuntivo, é um tempo verbal que revela um acontecimento incerto ou duvidoso.
Neste caso, o conjuntivo presente na segunda estrofe tem a ver com o apelo que D. Sebastião faz aos outros para que estes sigam o seu sonho/loucura, o que é algo que não se sabe que se vá concretizar, daí a presença do conjuntivo.

Ø O discurso de primeira pessoa:

Em todo o poema, o sujeito poético escreve na primeira pessoa, pois é ele próprio que está a falar do seu sonho. Ele identifica-se com o sonho, concorda com esta maneira de ver o mundo, ou seja, ir à “guerra” para conseguir as coisas. O uso da primeira pessoa está ao serviço, também, da ressurreição de D. Sebastião. De todos os heróis da “Mensagem” este é o que mais importa que esteja vivo, por causa do mito que originou e da importância desse mito para a construção do Quinto Império. É imprescindível, para a “Mensagem”, que D. Sebastião, ou o sebastianismo, esteja vivo e não há maior prova de que alguém esteja vivo e presente do que ouvir “as suas próprias palavras”. Daí a primeira pessoa do singular.



Ø A intencionalidade da interrogação:

A interrogação com que termina o poema aponta precisamente para a loucura como força criativa, que poderá ser canalizada para a reconstrução nacional. Sem o sonho, “a loucura”, o homem não se distingue do animal.
É através do sonho que o homem é capaz de seguir em frente sem temer a própria morte. Assim, o homem deixará de ser apenas um animal sadio ou reprodutor com a morte adivinhada.

Ø Aproximação do poema pessoano:
a) (canto I):
Segundo, “Os Lusíadas”, no canto I, estância 6-18, o poeta dedica o poema ao Rei D. Sebastião, a quem, depois de tecer diversos elogios, incita a novos feitos guerreiros, que “ sejam matéria a nunca ouvido canto”.
Desta forma, este excerto aproxima-se da epopeia camoniana onde, Fernando Pessoa elogia também D. Sebastião e, incentiva-o a ir para a guerra, dando um aspecto de coragem e força ao povo.
(canto X)
N’ “Os Lusíadas”, no canto X, Camões renova os apelos da dedicatória, incita D. Sebastião a cometer novas empresas guerreiras e a incutir novo ânimo nos seus “vassalos excelentes”, no sentido de regenerar o país. Termina o seu canto, prometendo, de “braço às armas feito” e “mente às Musas dada”, servir fielmente o Rei.
Aproxima-se do poema pessoano, no sentido em que, historicamente, D. Sebastião foi um Rei que lutava pelos seus objectivos. Tinha em mente a conquista do Norte de África e prosseguiu com essa ideia, daí o significado que se atribui ao mito sebastianista.

b)

O poema de pessoa refere que o mito de D. Sebastião prossegue, não acaba com a sua morte.
O excerto da carta diz precisamente que mesmo após a sua morte D. Sebastião continuou no imaginário comum da população e o seu mito persistiu. A lenda/seu mito em primeiro lugar significou o seu regresso físico; depois significou a sua ressurreição e mais tarde o regresso do que o rei simbolizava.
No fundo D. Sebastião (no poema) diz que o sonho deve continuar, é o que permanece e é imortal. E Pessoa na carta refere o regresso do que o rei simbolizava: o sonho como força criativa para a reconstrução nacional.




Ø Localização do poema (justificação):

O poema da obra pessoana situa-se na primeira parte – Brasão – constituída por 19 poemas, corresponde ao nascimento da nação, cujos fundadores lendários ou históricos, desde Ulisses a D. Sebastião, se tornaram heróis míticos que ora são invocados pelo poeta, ora se definem a si próprios ao longo desta parte.
O brasão na mensagem tem de ser entendido como lugar da memória colectiva, onde as qualidades do ser português se fixam com o símbolo da procura, com a possibilidade criadora, com potência do “Portugal”. E, mais do que a imagem do passado, o Brasão é o futuro que esse passado não deixa adivinhar!


Ø A comparação deste poema com o primeiro de “Os Símbolos”, na terceira parte (“O Encoberto”):

OS SÍMBOLOS
Primeiro / D. Sebastião

Esperai! Caí no areal e na hora adversaQue Deus concede aos seusPara o intervalo em que esteja a alma imersaEm sonhos que são Deus.
Que importa o areal e a morte e a desventuraSe com Deus me guardei?É O que eu me sonhei que eterno duraÉ Esse que regressarei.


Na primeira estrofe, Pessoa apresenta a morte como algo transitório “o intervalo” que está “imersa / Em sonhos que são Deus”. Por isso não é um estado permanente e sim um estado de transição, uma passagem da vida que conhecemos para outra vida futura.
O símbolo de D. Sebastião não é retomado igual “D.Sebastião - rei de Portugal” como nas “Quinas”, que é a terceira subdivisão da primeira parte do livro, pois agora Fernando Pessoa invoca o símbolo mais perto de estar completo, livrando-se da “carne” para ficar somente com a essência do mito.
Em “Que importa o areal e a morte e a desventura”, na segunda estrofe, Pessoa trata da imortalidade da alma e que a morte não tem significado. Uma vez que a morte de D. Sebastião no areal de Marrocos não é importante, pois sua alma, sua essência, permanece guardada em Deus e ela e o mito regressarão em outro corpo. Mas isso não quer dizer que o próprio Rei regressará igual ou em uma figura mitificada. Pois o que retornará é a renovação do seu mito pois ele injetará nova vida ao que está morto, que é o corpo de Portugal.



Ø Objecto esolhido pelo grupo: Espada

A espada é símbolo de Guerra Santa, da guerra interior, do Verbo, da palavra, da conquista do conhecimento, da libertação dos desejos, do poder, da espiritualidade, da vontade divina, da justiça, etc.
A espada é a fiel companheira do cavaleiro. E não é apenas companheira de vida ou de morte do cavaleiro, existe entre os dois uma união quase mística, de modo que não nos podemos referir ao cavaleiro sem nos referirmos também à espada e vice-versa.

· Justificação:

A espada á o símbolo do nosso trabalho porque é sinónimo de bravura e coragem, características estas que para nós se relacionam com D. Sebastião, porque mesmo sendo muito novo, logo que atingiu a maioridade decidiu partir para a conquista de África; significa também a conquista do conhecimento e libertação dos desejos/sonhos que levaram o Rei para tão difícil tarefa, tornando-se no último rei conquistador de Portugal.
Podemos também associar a espada ao Verbo e à Guerra Santa, e sendo D. Sebastião tão religioso decide fazer cumprir a vontade divina e conquistar outros povos fazendo espalhar-se a palavra de Deus, a sua religião.
A espada é a companheira do cavaleiro, e D. Sebastião foi um dos Grandes cavaleiros de Portugal…



Ø Música: El Rei D. Sebastião (José Cid)

Fugiu de Alcácer QuibirEl Rei D. SebastiãoPerdeu-se num labirintoCom seu cavalo realAs bruxas e adivinhos Nas altas serras beirãsJuravam que nas manhãsDe cerrado de NevoeiroVinha D. SebastiãoPastoras e trovadoresDas regiões litoraisAfirmaram terem vistoPerdido entre os pinhaisEl Rei D. SebastiãoCiganos vindos de longeFalcatos desconhecidosTentando iludir o povoAfirmaram serem elesEl Rei D. SebastiãoE que voltava de novoTodos foram desmentidosCondenados às galesPois nas praias dos AlgarvesTrazidos pelas marésEncontraram o cavaloFarrapos do seu gibãoPedaços de nevoeiroA espada e o coraçãode El Rei D. SebastiãoFugiu de Alcácer QuibirEl Rei Rei D. SebastiãoE uma lenda nasceuEntre a bruma do passadoChamam-lhe o desejadoPois que nunca mais voltouEl Rei D. SebastiãoEl Rei D. Sebastião



Trabalho Elaborado por:

- Rui Monteiro
- César Costa
- Alexandra Sampaio- Bárbara Sousa
[1] Emprego de muitas palavras para exprimir o que se podia dizer mais concisamente.
[2] Projecto que a ser exequível asseguraria a felicidade de todos.

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