segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

D. Sebastião

“D. Sebastião, Rei de Portugal”


Ø Biografia de D. Sebastião:

D. Sebastião, filho único e descendente de D. João de Portugal, foi muito novo para África com o intuito de retornar à glória passada, de consolidar a figura real no acto governativo e de conquistar a terra dos infiéis, em nome de Deus.
Em virtude de ser um herdeiro tão esperado para dar continuidade à Dinastia de Avis, ficou conhecido como “O Desejado”; alternativamente, é também lembrado como “o Encoberto” ou “O Adormecido”, devido à lenda sebastianista.
Durante a infância do jovem rei, este foi educado por jesuítas, tornando-se num adolescente de grande fervor religioso, que passava muito tempo em jejuns e o resto em caçadas.
Devido a toda esta educação, D. Sebastião desenvolveu uma personalidade mimada e teimosa, dada a sua posição de rei, aliada a sua convicção de que seria o capitão de Cristo numa nova cruzada contra os Mouros do norte de África.
A quando da maioridade, D. Sebastião, já tinha iniciado a preparação da expedição contra os marroquinos. Ignorando os conselhos dos seus generais, rumou a África, nomeadamente, a Marrocos, e encaminhou-se para o interior, sofrendo uma penosa e humilhante derrota em Alcácer-Quibir, perdendo uma boa parte do seu exército, e possivelmente foi nesta batalha que D. Sebastião foi morto.
A morte de D. Sebastião originou uma crise em Portugal, pondo em perigo a independência.
Após sua morte D. Sebastião tornou-se, então, numa lenda “O Rei Dormente” que iria regressar para ajudar Portugal nas suas horas mais sombrias.



Ø Localização do poema na obra:

O poema está localizado na primeira parte “Brasão”- da Mensagem (colectânea de poemas de Fernando Pessoa, escrita entre 1913 e 1934, data da sua publicação.). Dentro desta integra-se em “As Quinas”.
Esta obra (“Brasão”) contém poesia da índole épico-lirica participando assim das características destes dois géneros. Relativamente à sua matriz épica devemos destacar o tom de exaltação heróica que percorre esta obra; a evocação dos perigos e dos desastres bem como a matéria histórica ali apresentada.


Ø Exploração do poema da “Mensagem”:

Nesta parte da obra que nos propomos analisar aborda-se a origem, a fundação, o princípio de Portugal. O título “D. Sebastião” remete-nos para um momento importante na nação, assumindo D. Sebastião um papel importante na decisão tomada de avançar para a conquista de África.
Em termos formais, constatamos que o poema é constituído por duas estrofes, de cinco versos (quintilhas).
Quanto ao metro e ao ritmo os versos são irregulares. Os versos variam entre seis sílabas métricas, as oito e as dez. A rima varia entre rica e pobre, predominando não obstante a pobre e obedece ao seguinte esquema rimático: ababb, com rimas cruzadas e emparelhadas. A alternância do ritmo possibilita a emissão de uma reflexão do próprio rei e o incitamento que dirige aos destinatários.

Na nossa opinião, o poema poderá dividir-se em duas partes: a primeira corresponde à primeira estrofe e a segunda parte à segunda estrofe.
Na primeira, o sujeito poético faz uma auto-caracterização como “louco”; na segunda faz uma apologia da loucura, um elogio, exortando a que os outros dêem continuidade ao seu sonho.
Na primeira estrofe o poeta encontra a base da loucura na grandeza (a febre do além, o sonho, o ideal), que assume com orgulho. Em consequência dessa loucura, o herói encontrou a Morte em Alcácer Quibir (perífrase)[1]. Apesar disto a loucura tem neste poema uma conotação positiva, já que se liga ao desejo de grandeza, à capacidade realizadora, sem a qual o homem não passa de um animal. Veja-se ainda na primeira estrofe a referência ao ser histórico “ser que houve” que ficou na batalha de Alcácer Quibir, onde encontrou a destruição física, e a distinção deste com o ser mítico “não o que há”, que sobreviveu pois é imortal, é a ideia-símbolo, o sonho que fecunda a realidade. Este perdura na memória colectiva, por exemplo.

Na segunda parte, o poeta lança um repto aos destinatários, fazendo um apelo à loucura e à valorização do sonho. Deve portanto dar-se asas à loucura como força motora da acção. Trata-se de um apelo de alcance nacional e universal.
Este elogio por parte do poeta é a referência ao mito sebastianista, força criadora, capaz de impelir na nação para a sua última fase, que está aqui em questão.
O repto permite aos destinatários considerarem a grandeza do Rei suficiente para todos.
A utopia[2] foi e sempre será a força criadora de novos mundos, quer a nível individual quer a nível colectivo. “ Sem ideal cai-se no viver materialista”.
A interrogação retórica com que termina o poema aponta precisamente para a loucura como força criativa que poderá ser canalizada para a reconstrução nacional.
Sem o sonho “ a loucura “, o homem não se distingue do animal. É através do sonho que o homem é capaz de seguir em frente sem temer a própria morte. Assim, o homem deixará de ser apenas um animal sadio ou reprodutor, com a morte adivinhada.


Ø As recorrências lexicais:

O sujeito poético fala na primeira pessoa.
As referências lexicais são: “ Louco, loucura, haver (há e houve) e minha.”
Referências como “louco e loucura” referem-se à vontade que D. Sebastião tinha de conquistar feitos gloriosos e difíceis.
Quanto a “minha”, tem a ver com o seu maior sonho, ou seja, andar à conquista.


Ø A maiusculização da “Sorte”:

De um modo geral, a palavra “Sorte” vem escrita com letra maiúscula, pois não se refere à sorte, de ter sorte. No poema refere-se ao Destino/Fado, daí que tem uma importância maior.
As pessoas devem guiar-se pelo Destino/Sorte, mas no entanto elas têm um papel muito importante na construção do seu próprio caminho.


Ø Oposição pretérito/presente:
Em “…porque quis grandeza/ qual a Sorte a não dá”, indica a grandeza, o poder, os títulos que D. Sebastião queria conquistar, mas cuja “sorte”, cujo destino, não lho trouxe.
Quando diz “Ficou meu ser que houve, não o que há”, refere-se ao facto de o seu mito ainda persistir e que ainda se espera a aparição d’ El Rei Conquistador.

Ø Funcionalidade do conjuntivo na segunda estrofe:

O conjuntivo, é um tempo verbal que revela um acontecimento incerto ou duvidoso.
Neste caso, o conjuntivo presente na segunda estrofe tem a ver com o apelo que D. Sebastião faz aos outros para que estes sigam o seu sonho/loucura, o que é algo que não se sabe que se vá concretizar, daí a presença do conjuntivo.

Ø O discurso de primeira pessoa:

Em todo o poema, o sujeito poético escreve na primeira pessoa, pois é ele próprio que está a falar do seu sonho. Ele identifica-se com o sonho, concorda com esta maneira de ver o mundo, ou seja, ir à “guerra” para conseguir as coisas. O uso da primeira pessoa está ao serviço, também, da ressurreição de D. Sebastião. De todos os heróis da “Mensagem” este é o que mais importa que esteja vivo, por causa do mito que originou e da importância desse mito para a construção do Quinto Império. É imprescindível, para a “Mensagem”, que D. Sebastião, ou o sebastianismo, esteja vivo e não há maior prova de que alguém esteja vivo e presente do que ouvir “as suas próprias palavras”. Daí a primeira pessoa do singular.



Ø A intencionalidade da interrogação:

A interrogação com que termina o poema aponta precisamente para a loucura como força criativa, que poderá ser canalizada para a reconstrução nacional. Sem o sonho, “a loucura”, o homem não se distingue do animal.
É através do sonho que o homem é capaz de seguir em frente sem temer a própria morte. Assim, o homem deixará de ser apenas um animal sadio ou reprodutor com a morte adivinhada.

Ø Aproximação do poema pessoano:
a) (canto I):
Segundo, “Os Lusíadas”, no canto I, estância 6-18, o poeta dedica o poema ao Rei D. Sebastião, a quem, depois de tecer diversos elogios, incita a novos feitos guerreiros, que “ sejam matéria a nunca ouvido canto”.
Desta forma, este excerto aproxima-se da epopeia camoniana onde, Fernando Pessoa elogia também D. Sebastião e, incentiva-o a ir para a guerra, dando um aspecto de coragem e força ao povo.
(canto X)
N’ “Os Lusíadas”, no canto X, Camões renova os apelos da dedicatória, incita D. Sebastião a cometer novas empresas guerreiras e a incutir novo ânimo nos seus “vassalos excelentes”, no sentido de regenerar o país. Termina o seu canto, prometendo, de “braço às armas feito” e “mente às Musas dada”, servir fielmente o Rei.
Aproxima-se do poema pessoano, no sentido em que, historicamente, D. Sebastião foi um Rei que lutava pelos seus objectivos. Tinha em mente a conquista do Norte de África e prosseguiu com essa ideia, daí o significado que se atribui ao mito sebastianista.

b)

O poema de pessoa refere que o mito de D. Sebastião prossegue, não acaba com a sua morte.
O excerto da carta diz precisamente que mesmo após a sua morte D. Sebastião continuou no imaginário comum da população e o seu mito persistiu. A lenda/seu mito em primeiro lugar significou o seu regresso físico; depois significou a sua ressurreição e mais tarde o regresso do que o rei simbolizava.
No fundo D. Sebastião (no poema) diz que o sonho deve continuar, é o que permanece e é imortal. E Pessoa na carta refere o regresso do que o rei simbolizava: o sonho como força criativa para a reconstrução nacional.




Ø Localização do poema (justificação):

O poema da obra pessoana situa-se na primeira parte – Brasão – constituída por 19 poemas, corresponde ao nascimento da nação, cujos fundadores lendários ou históricos, desde Ulisses a D. Sebastião, se tornaram heróis míticos que ora são invocados pelo poeta, ora se definem a si próprios ao longo desta parte.
O brasão na mensagem tem de ser entendido como lugar da memória colectiva, onde as qualidades do ser português se fixam com o símbolo da procura, com a possibilidade criadora, com potência do “Portugal”. E, mais do que a imagem do passado, o Brasão é o futuro que esse passado não deixa adivinhar!


Ø A comparação deste poema com o primeiro de “Os Símbolos”, na terceira parte (“O Encoberto”):

OS SÍMBOLOS
Primeiro / D. Sebastião

Esperai! Caí no areal e na hora adversaQue Deus concede aos seusPara o intervalo em que esteja a alma imersaEm sonhos que são Deus.
Que importa o areal e a morte e a desventuraSe com Deus me guardei?É O que eu me sonhei que eterno duraÉ Esse que regressarei.


Na primeira estrofe, Pessoa apresenta a morte como algo transitório “o intervalo” que está “imersa / Em sonhos que são Deus”. Por isso não é um estado permanente e sim um estado de transição, uma passagem da vida que conhecemos para outra vida futura.
O símbolo de D. Sebastião não é retomado igual “D.Sebastião - rei de Portugal” como nas “Quinas”, que é a terceira subdivisão da primeira parte do livro, pois agora Fernando Pessoa invoca o símbolo mais perto de estar completo, livrando-se da “carne” para ficar somente com a essência do mito.
Em “Que importa o areal e a morte e a desventura”, na segunda estrofe, Pessoa trata da imortalidade da alma e que a morte não tem significado. Uma vez que a morte de D. Sebastião no areal de Marrocos não é importante, pois sua alma, sua essência, permanece guardada em Deus e ela e o mito regressarão em outro corpo. Mas isso não quer dizer que o próprio Rei regressará igual ou em uma figura mitificada. Pois o que retornará é a renovação do seu mito pois ele injetará nova vida ao que está morto, que é o corpo de Portugal.



Ø Objecto esolhido pelo grupo: Espada

A espada é símbolo de Guerra Santa, da guerra interior, do Verbo, da palavra, da conquista do conhecimento, da libertação dos desejos, do poder, da espiritualidade, da vontade divina, da justiça, etc.
A espada é a fiel companheira do cavaleiro. E não é apenas companheira de vida ou de morte do cavaleiro, existe entre os dois uma união quase mística, de modo que não nos podemos referir ao cavaleiro sem nos referirmos também à espada e vice-versa.

· Justificação:

A espada á o símbolo do nosso trabalho porque é sinónimo de bravura e coragem, características estas que para nós se relacionam com D. Sebastião, porque mesmo sendo muito novo, logo que atingiu a maioridade decidiu partir para a conquista de África; significa também a conquista do conhecimento e libertação dos desejos/sonhos que levaram o Rei para tão difícil tarefa, tornando-se no último rei conquistador de Portugal.
Podemos também associar a espada ao Verbo e à Guerra Santa, e sendo D. Sebastião tão religioso decide fazer cumprir a vontade divina e conquistar outros povos fazendo espalhar-se a palavra de Deus, a sua religião.
A espada é a companheira do cavaleiro, e D. Sebastião foi um dos Grandes cavaleiros de Portugal…



Ø Música: El Rei D. Sebastião (José Cid)

Fugiu de Alcácer QuibirEl Rei D. SebastiãoPerdeu-se num labirintoCom seu cavalo realAs bruxas e adivinhos Nas altas serras beirãsJuravam que nas manhãsDe cerrado de NevoeiroVinha D. SebastiãoPastoras e trovadoresDas regiões litoraisAfirmaram terem vistoPerdido entre os pinhaisEl Rei D. SebastiãoCiganos vindos de longeFalcatos desconhecidosTentando iludir o povoAfirmaram serem elesEl Rei D. SebastiãoE que voltava de novoTodos foram desmentidosCondenados às galesPois nas praias dos AlgarvesTrazidos pelas marésEncontraram o cavaloFarrapos do seu gibãoPedaços de nevoeiroA espada e o coraçãode El Rei D. SebastiãoFugiu de Alcácer QuibirEl Rei Rei D. SebastiãoE uma lenda nasceuEntre a bruma do passadoChamam-lhe o desejadoPois que nunca mais voltouEl Rei D. SebastiãoEl Rei D. Sebastião



Trabalho Elaborado por:

- Rui Monteiro
- César Costa
- Alexandra Sampaio- Bárbara Sousa
[1] Emprego de muitas palavras para exprimir o que se podia dizer mais concisamente.
[2] Projecto que a ser exequível asseguraria a felicidade de todos.

D. Dinis

· Localizar os excertos/poemas nas estruturas das obras:

Este poema integra-se na obra de Fernando Pessoa, “Mensagem”. E integra-se nela pelo seu cariz histórico-mítico, uma vez que a intenção desta obra é anunciar um futuro a partir da história passada.
Está colocado na primeira parte da obra, “Brasão” sendo o sexto poema do capítulo “Os Castelos” (a segunda de cinco). D. Dinis foi o sexto rei de Portugal e foi o primeiro que optou pela não-conquista.
O excerto d` “Os Lusíadas” apresentado pertence ao canto III e diz respeito à narração da história de Portugal ao rei de Melinde.

· A associação do rei a três actos criativos (trovador-lavrador-plantador):

D. Dinis é um rei multifacetado. Está presente na “Mensagem” devido ao seu carácter mítico, uma vez que fez várias coisas, entre elas mandar plantar o pinhal de Leiria e escrever várias trovas que falavam do mar.
Foi um rei trovador, uma vez que produziu e escreveu trovas, entre elas as “Cantigas d’amigo” como é referido no poema. “Cantiga d’amigo” é um estilo de trova na qual a donzela escreve e descreve o seu amor pelo amigo, pelo amado, que terá ido para a guerra ou para o mar...
Lavrador, uma vez que os Reis anteriores se dedicaram à conquista de Terras, para formar o Condado Portucalense, e este se rei dedicou à agricultura. As terras estavam abandonadas e quase todos os terrenos eram baldios e necessitavam de ser utilizados, sobretudo para produzir alimento.
Plantador, uma vez que este rei mandou plantar o pinhal de Leiria. A madeira deste pinhal foi, mais tarde, utilizada para construir as naus utilizadas nos descobrimentos.

· O léxico associado ao canto/campo/mar:

Por vezes o autor utiliza as mesmas palavras, associando-as a actos e campos lexicais diferentes.
Canto: “escreve”, “cantar de amigo”, “arroio”, “cantar”, “ondulam”.
Campo: “plantador”, “pinhais”, “trigo”,”Terra”.
Mar: “naus”, “oceano”, “mar futuro”.

·A fusão das áreas lexicais:

O autor utiliza palavras como “ondulam” e “arroio” quando se refere ao campo, contudo, no sentido real das palavras, estas associam-se ao mar. A fusão das àreas lexicais ocorre quando o autor junta duas realidades diferentes, isto é, quando utiliza os movimentos dos pinhais para falar do movimento do mar, ou quando usa o cantar para falar da busca pelo mar visível na palavra “arroio”.
Arroio pode ser traduzido como regato ou corrente de água.

· O tempo presente na sugestão futuro:

D. Dinis escreveu várias trovas sobre o mar e todos os seus actos têm grande importância para o futuro. Todos os seus actos são como que um perspectivar, anunciar, profetizar de um grande futuro. O futuro será o alargar o território português, isto é, a projecção da nação através de mares: o presente é preparar o império e criar bens e utensílios para poder usufruir desse futuro.

·A simbologia terra/mar no acto de criação:

Este poema referencia os dois ciclos da nossa história: a terra e o mar. A terra conquistada pelos Reis antecessores que nesta altura merecia atenção. D.Dinis foi cognominado de “O Lavrador”, uma vez que foi na agricultura que mais investiu. O pinhal de Leiria foi plantado para impedir que as terras à beira--mar fossem degradadas pela areia do mar e vento. O mar é o futuro. D. Dinis mandou plantar o pinhal para o bem da agricultura, contudo, anos mais tarde, a madeira deste viria a ser utilizada para construir as naus em que partiram os descobridores portugueses. A terra é então uma “voz” no presente que chama pelo futuro, o mar.

· A analogia donzela-terra/amigo-mar:

Esta analogia surge a par de uma característica do Rei Trovador. D. Dinis escreveu cerca de 134 trovas entre elas 51 cantigas de amigo, 73 cantigas de amor e 10 cantigas de escárnio e maldizer. A cantiga de amigo (que é a que interessa neste ponto) é uma trova na qual a donzela fala do amado (amigo), das saudades que este lhe deixou, a vontade de o ver.
Neste sentido, então a terra é a donzela que ama e chama pelo amigo, o mar. Este chamar só viria a ser calado pelos descobrimentos, quando da donzela -terra partiram as naus vagueando e descobrindo o amigo - mar.


● O tema da génese, o sonho concretizado, do crescimento do Império.

A génese do império marítimo acontece verdadeiramente, sem que o Rei tivesse noção disso, com D. Dinis. De facto, se o pinhal de Leiria não existisse, talvez os descobrimentos não tivessem acontecido da mesma forma. Isto significa que existem muitos contributos que, involuntariamente, podem ser decisivos para a construção do Quinto Império, ainda que os seus autores não tenham consciência disso. Para Pessoa o Quinto Império será uma realidade e, supostamente, todos nós de forma mais ou menos consciente vamos dando o nosso contributo para o seu crescimento e concretização.

● A expressividade dos recursos estilísticos utilizados:

1.º Estrofe: A expressão “ ouve um múmuro silêncio consigo” contém um paradoxo/oximoro que realça a atitude meditativa do rei que como profeta, que ao escrever o seu cantar de Amigos profetiza já a aventura marítima dos portugueses. Há um recuo por parte do sujeito lírico no tempo para ouvir com o rei “ o rumor dos pinhais que, como um trigo de Império, ondulam sem se poder ver.” Esta expressão contém uma personificação que sugere que esse sussurrar pressentido por D. Dinis era a fala misteriosa dos pinhais que já ondulavam na imaginação do poeta. Há também uma comparação muito expressiva. Os pinhais contribuíram em larga escala para permitir a expansão portuguesa e esta criaria a riqueza do nosso país. Por outro lado, o trigo é o símbolo de alimento, de poder económico, pois as searas de trigo (cor de ouro) são promessa de riqueza para um país. O “ ondular invisível” contém uma metonímia que deixa já antever a aventura marítima e o império que lhe está associado. Há ainda o animismo visível no “rumor dos pinhais” que parecem ter linguagem própria e inspira o cantar do rei, porque anunciam algo de grande, ainda misterioso.
2.º Estrofe: Há um paradoxo/oximoro visível no “marulho obscuro” dos pinhais que na perspectiva do rei era um pressentimento ainda que obscuro de algo grande que estava para vir. Uma personificação na “falta dos pinhais”e “a voz da terra ansiando pelo mar.” Que põem em destaque o carácter mítico de D. Dinis que é uma espécie de intérprete de uma vontade superior. Há ainda uma metonímia visível no “Arroio, esse cantar”, uma vez que esse cantar era como um regatozinho que procurava o mar por achar. Há também um paralelismo anafórico visível nas expressões “é o som”, “E a voz” que vem dar ênfase mais uma vez á profetização dos descobrimentos. Por fim, há um paradoxo/oximoro: “presente”/ “futuro” e o “mar”/ “terra” pelo qual o futuro está cada vez mais nítido e próximo.


● Aproximações do poema pessoano á epopeica camoniana:

Toda a obra de Fernando Pessoa, “Mensagem”, está imbuída de sensibilidade épica. Este poema é de índole épico-lírico, uma vez que contém características de ambos os géneros. Relativamente à matriz épica é de salientar o tom de exaltação heróica, glorificação e elogio da personagem, e a matéria histórica apresentada que valoriza a cultura. Assim como Camões, Pessoa, glorifica e exalta um povo, sendo neste poema exalta um rei considerado um dos mais importantes da nossa história.
· A justificação para a localização do poema na obra pessoana:
Este poema encontra-se na «Mensagem» pelo seu carácter mítico e cultural. Quando D. Dinis foi proclamado Rei apostou no desenvolvimento do Império. Deu grande impulso à agricultura e às plantações do pinhal de Leiria, que viria a ser extremamente importante para os descobrimentos. A cultura foi um dos seus interesses pessoais, uma vez que foi um grande trovador. É presumivelmente o primeiro Rei Português não analfabeto.
Assim sendo, este poema encontra-se na «Mensagem» porque uma vez que a grandeza dos feitos de uma nação ou personagem importante da sua história são inseparáveis da sua grandeza literária e, também, porque D. Dinis é uma personagem criadora e sonhadora, e a sua capacidade profetizadora do futuro impele o autor a mais uma vez querê-lo na sua obra. Compreende-se que Fernando Pessoa tenha concebido um super Portugal no qual ele seria o seu super poeta. A cultura aqui presente anuncia que: também o Quinto Império será cultural.

· Objecto: Pinheiro:

O pinheiro é símbolo do poema, uma vez que foi esta a árvore plantada em Leiria a mando de D. Dinis e foi da madeira dela que se construíram as primeiras naus. O pinheiro é também símbolo do avanço de Portugal, não só pela agricultura, como pelos descobrimentos. Assim, Portugal teve de germinar a partir da semente, uma partícula muito pequena, mas que ao fim de muitos anos cresceu e deu frutos para que o mesmo ciclo se repita vezes sem conta, cada vez mais forte...

· Música: Remar, Remar

Autoria: Tim;
Cantada por: Xutos e Pontapés
Remar RemarMares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde-escuroAs ondas que te empurramAs vagas que te esmagamContra tudo lutasContra tudo falhas
Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Nada me dizem
Berras às bestasQue re sufocamEm braços viscososCheios de pavorEsse frio surdoO frio que te envolveNasce na fonte
Na fonte da dor
Remar remarForca a correnteAo mar, ao marQue mata a gente

Esta música associa-se ao poema pelo seu tema. Apesar de D. Dinis não estar directamente associado ao mar e aos descobrimentos, o resultado dos seus actos está. Deu importância á terra e criou condições para que se pudessem realizar os descobrimentos…

Grupo II
Alexandrina; Aloísio; André; Carlos e Rui Pedro

Ulisses

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.


Fernando Pessoa


Localização do poema

O poema “Ulisses” encontra-se na primeira parte, “Brasão”, da “Mensagem” de Fernando Pessoa e integra-se no segundo capítulo: “Os Castelos”. O facto de ser o primeiro poema dessa parte, justifica-se por Ulisses ser o mais antigo dos heróis associado à história de Poertugal. De facto, nesta capítulo, como acontece noutros, o autor segue uma organização cronológica dos heróis.
O título “Ulisses” remete-nos para a origem de Portugal, atribuindo a Ulisses, navegador errante, que depois da guerra de Tróia se perdeu, a fundação de “Olissipo”, futura Lisboa. Não havendo provas históricas dessa fundação, na sua origem está, portanto, um mito.
O povo português nasceu de figuras lendárias (uma delas Ulisses) por isso ficamos predestinados a continuar ou seguir os feitos grandiosos dos nossos antepassados, mantendo Portugal sempre no seu auge. Hoje em dia Portugal encontra-se em decadência. Para chegarmos ao quinto Império devemos seguir, acreditar e imitar os feitos dos nossos antepassados, não através da força, mas sim através da cultura, do conhecimento, como previu Fernando Pessoa. Para este autor os Descobrimentos, apesar da sua grandiosidade, foram apenas uma pequena amostra do que os Portugueses são capazes fazer e daquilo que Portugal será: afirmar-se-á mundialmente através da cultura.


Análise do poema

O poema “Ulisses” pode se dividir em três momentos distintos, em que a primeira parte corresponde à primeira estrofe.
Nesta primeira estrofe diz-se o que é o mito, define-se o mito. Entende-se por mito – a narrativa oral ou escrita, com personagens ou feitos fantasiosos, que tem por base um facto real.
“O mito é o nada que é tudo”, neste oxímoro o sujeito poético define o mito como sendo nada, já que um mito é uma explicação fantasiosa do real, algo sem consistência, sem fundamento, mas apesar disso é tudo, porque explica esse mesmo real, com isso acaba por se tornar, também ele (mito) real e concreto. O mito cria assim as condições necessárias para que se passe a dar concretização a uma ideia.
“o mesmo sol que abre os céus”/”é um mito brilhante e mudo”, estes dois versos constituem uma metáfora. Tomando aqui o sol como um mito brilhante que abre os céus todos os dias, mostrando o seu dinamismo e mudo, podemos dizer que o mito não existe até que seja concretizado.
“o corpo morto de Deus”/“vivo e desnudo”, Pessoa considera na obra Deus como um símbolo, dizendo que o mito é como Deus que, parecendo morto se revela aos homens como vivo, sendo este último verso uma personificação, em que se atribui ao mito características humanas: “vivo” e “desnudo”.
Nesta estrofe podemos concluir que o mito é difícil de definir comprovando isso nos oxímoros: “vivo”/”morto”, “mudo”/”brilhante”. A presença do presente do indicativo justifica-se pelo facto de nesta estrofe se definir o mito como algo permanente.

Na segunda parte, que corresponde à segunda estrofe, o assunto é particularizado ao caso concreto de Ulisses, designado no poema como “este”. “Este que aqui aportou”, segundo a lenda de Ulisses, após a guerra de Tróia, no caminho de volta para Ítaca (região de que era Rei), perdeu-se no mar Mediterrâneo e, durante a viagem, aportou na foz do Tejo e fundou a Olissipo, futura Lisboa.
“Foi por não ser existindo” – o mito existe sem existir, isto é, o mito é uma crença, uma história em que as pessoas acreditam e vivem essa crença, mas o mito por si só, não passa de uma história algo não material, algo que não aconteceu na realidade.
“Sem existir nos bastou”, porque o mito basta, enquanto mito, para criar algo mais do que o próprio mito.
“Por não ter vindo foi vindo”/”e nos criou” – Ulisses mesmo que não tenha existido, já foi elevado à condição de mito e foi através dele que se explicou a origem de Lisboa. Ulisses poderá assim representar a vocação marítima dos portugueses, pois é do mar que ele chega, este mítico antepassado dos portugueses.
Os oxímoros presentes em “foi por não ser…existindo”, “sem existir nos bastou” e “ por não ter vindo foi vindo” exprimem o carácter contraditório do mito (existe não existindo). O uso do pretérito perfeito nesta estrofe justifica-se pelo recuo a uma narração do nosso passado (história da Lisboa fundada por Ulisses).

Na terceira estrofe e última parte evidencia-se a importância do mito para a vida.
O sujeito poético eleva o mito a um estatuto criador e divino, “assim a lenda escorre”, “a entrar na realidade” e “e a fecundá-la decorre”.
O mito “fecunda” a realidade, onde são as suas possibilidades criadoras que dão sentido ao real. Assim o que verdadeiramente importa não é o facto de Ulisses ter uma existência real, mas aquilo que ele representa – o futuro de Portugal glorioso só poderá ser concretizado através da vivência do mito e da energia criadora que ele liberta.
Os dois últimos versos, “em baixo, a vida, metade” e “de nada, morre”, significam que sem mito não há vida. “Vida” (“a realidade”) que se situa “em baixo” nota-se a expressão adverbial, só tem sentido quando dentro dela “escorre” (movimento de cima para baixo) “a lenda”, é a passagem do nada ao tudo.
As formais verbais “escorre” e “decorre” contêm o valor semântico de duração, traduzem assim a acção duradoura e persistente do mito. O regresso ao presente do indicativo remete-nos à conclusão de que a lenda é essencial aos feitos dos grandes povos e, por isso, persiste ao longo do tempo, mantendo-se constante.

Valor do mito e a sua importância

Ulisses distinguiu-se pelo seu valor, pela sua coragem, pela sua perseverança, pela sua audácia, pelo arrojo, pela calma que teve ao longo da sua vida. No regresso a casa, depois de Tróia, Ulisses enfrentou inúmeros desafios, enfrentou deuses, seus opositores, e conviveu com outros que o protegiam. Mas nunca perdeu a esperança de regressar um dia a casa, Ítaca, e só isso o fez vencer os obstáculos.
É a partir de uma crença, lenda que se faz história, onde esta vem inspirar o Homem, dando-lhe referências simbólicas, e se alimenta a alma humana. O mito proporciona mudanças na vida.
A vida passa mas o mito fica, isto é, o mito apesar de ser uma crença das pessoas nunca “morre”, é uma continuidade, enquanto a vida vai passando.
Conclui-se assim que, a partir deste poema, que as figuras históricas e míticas que nos vão aparecer, surgem como emblemas ou símbolos, considerados importantes para o poeta, para transmitir o seu desejo inicial: construir o Quinto Império.


Disposição gráfica

Este poema é dividido em três quintilhas (cinco versos), em que cada verso é um octossílabo (oito sílabas métricas) excepto o ultimo verso de cada quintilha em que este é disposto em tetrassílabos (quatro sílabas métricas). O último verso de cada quintilha é mais curto do que os anteriores pois o sujeito poético pretende realçar e concluir a assunto tratado em cada estrofe.
Isto verifica-se ao longo do poema, em que na primeira estrofe, estamos na presença de uma dupla adjectivação “vivo” e “desnudo” que traduz o carácter temporal da estrofe. “Vivo” é algo que permanece constante – mito, deste modo a utilização dos verbos no presente do indicativo em toda a estrofe.
Na segunda e terceira estrofe, os últimos versos, são formados por formas verbais adequadas ao tempo verbal da respectiva estrofe. “Criou” encontra-se no pretérito perfeito reforçando o assunto da estrofe do passado em que Ulisses aportou em Lisboa e a fundou, e, por sua vez, nos veio a “criar”.
Já no último verso da terceira estrofe “de nada, morre” o verbo encontra-se no presente do indicativo, pois o assunto da estrofe diz respeito à importância e existência da lenda, mito na nossa vida, e que sem esta “morremos”, a nossa vida deixa de ter sentido.
Se juntarmos os últimos versos de cada estrofe podemos tirar uma conclusão.
“O mito é vivo e desnudo, ele nos criou e sem ele nada somos, isto significa que o mito é algo constante e permanente na nossa vida, não como algo físico, mas sim espiritual, e que foi a partir deste que nos fomos criando como povo e fazendo grandes feitos. A vida precisa de mitos, pois sem eles a vida não teria qualquer sentido, muito menos a vida que é preciso criar: a existência do Quinto Império.


Progressão regressiva do final do poema

Na última estrofe, em que se faz referência do mito na vida, existe um movimento de cima para baixo, onde a lenda “escorre” e fecunda a “realidade”. Isto significa que o mito vai fazendo parte da realidade, pois a realidade também é feita a partir das lendas em que as almas humanas são inspiradas.
No final do poema há uma progressão regressiva porque partimos do ponto mais alto (a “lenda” ou mito), “escorregamos” para um patamar um pouco mais abaixo (a “realidade”) e ainda temos mais um degrau a descer: “em baixo” está a “vida”, que “morre”…


Aproximação do poema pessoano ao poema camoniano


Nos poemas d`”Os Lusíadas” referidos aos cantos III, estâncias 57 e 58, retrata a formação de Lisboa por Ulisses, “que edificada foste do facundo”, o que se aproxima muito com o poema pessoano, pois no poema de Fernando Pessoa, na segunda estrofe, existe um recuo com n`”Os Lusíadas” para o passado de Portugal, onde se refere à formação de Lisboa e o facto de esta ter sido fundada por um guerreiro lendário grego da antiguidade, conhecido pela sua coragem e perseverança: Ulisses.
Já no canto VIII na estância 4, Camões refere-se à chegada pela primeira vez de Ulisses a Lisboa “vês outro, que do Tejo a terra pisa”, faz ainda referência ao facto da sua história antes de fundar Lisboa, do seu “tão longo mar arado”, da sua longa e atribulada viagem na tentativa de regresso à sua terra natal, onde ficou conhecido pelos seus grandes feitos. Esta estância aproxima-se do poema pessoano “Ulisses”, pois foi através da sua viagem e chegada a Lisboa, fundando-a, que ficou relembrado como uma lenda em que os Portugueses foram “criados”.
Na estância 5, fala-se numa “Deusa que lhe dá língua facunda”, esta deusa segunda a lenda é Minerva, deusa da Sabedoria, que surgia sempre para Ulisses em situações perigosas e que necessitassem de ajuda. Nesta estrofe Camões quer referir que o Herói Ulisses não era apenas força e coragem, mas também sabedoria, conhecimento e cultura. Pessoa faz referência no poema “Ulisses” ao que significa mito e o que ele importa para a vida e para a construção de um Quinto Império, não da força bruta e física, mas da força intelectual e cultura.
As estâncias de Camões e o poema de Pessoa aproximam-se no factos destes dois poetas fazerem referência ao valor da cultura e conhecimento para o povo português e que a lenda deve ser continuada por Portugal. Pessoa previu a construção do Quinto Império, no entanto Camões apenas critica o facto de não se valorizar a cultura em Portugal.


Música relacionada com o poema

“A Portuguesa” – Hino de Portugal

Heróis do mar, nobre povo
Nação valente e imortal.
Levantai hoje de novo
No esplendor de Portugal.
Entre as brumas da memória.
Oh pátria sente-se a voz,
Dos teus egrégios avós
Que há de levar-nos à vitoria.
Às armas, às armas
Sobre a terra e sobre o mar
Às armas, às armas
Pela pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Escolhemos esta célebre música porque fala do povo português e dos seus feitos (Descobrimentos). De uma forma indirecta podemos dizer que se faz uma pequena referência ao Quinto Império, “levantai hoje de novo o esplendor de Portugal”, faz referência aos nossos antepassados “entre as brumas da memória” e “dos teus egrégios avós”. É uma música que identifica Portugal, é como um símbolo!



Objecto relacionado com o poema

Padrão dos Descobrimentos
Escolhemos este objecto devido ao seu significado, este representa os Descobrimentos e é único na cidade de Lisboa, cidade onde Ulisses aportou e fundou Olissipo, hoje Lisboa, representa também o ponto de partida de onde os portugueses, saíram na procura de novas rotas marítimas.


Grupo I
Ana Leite; Cátia Ferreira; Joana Sousa e Sara Alves