segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

D. Dinis

· Localizar os excertos/poemas nas estruturas das obras:

Este poema integra-se na obra de Fernando Pessoa, “Mensagem”. E integra-se nela pelo seu cariz histórico-mítico, uma vez que a intenção desta obra é anunciar um futuro a partir da história passada.
Está colocado na primeira parte da obra, “Brasão” sendo o sexto poema do capítulo “Os Castelos” (a segunda de cinco). D. Dinis foi o sexto rei de Portugal e foi o primeiro que optou pela não-conquista.
O excerto d` “Os Lusíadas” apresentado pertence ao canto III e diz respeito à narração da história de Portugal ao rei de Melinde.

· A associação do rei a três actos criativos (trovador-lavrador-plantador):

D. Dinis é um rei multifacetado. Está presente na “Mensagem” devido ao seu carácter mítico, uma vez que fez várias coisas, entre elas mandar plantar o pinhal de Leiria e escrever várias trovas que falavam do mar.
Foi um rei trovador, uma vez que produziu e escreveu trovas, entre elas as “Cantigas d’amigo” como é referido no poema. “Cantiga d’amigo” é um estilo de trova na qual a donzela escreve e descreve o seu amor pelo amigo, pelo amado, que terá ido para a guerra ou para o mar...
Lavrador, uma vez que os Reis anteriores se dedicaram à conquista de Terras, para formar o Condado Portucalense, e este se rei dedicou à agricultura. As terras estavam abandonadas e quase todos os terrenos eram baldios e necessitavam de ser utilizados, sobretudo para produzir alimento.
Plantador, uma vez que este rei mandou plantar o pinhal de Leiria. A madeira deste pinhal foi, mais tarde, utilizada para construir as naus utilizadas nos descobrimentos.

· O léxico associado ao canto/campo/mar:

Por vezes o autor utiliza as mesmas palavras, associando-as a actos e campos lexicais diferentes.
Canto: “escreve”, “cantar de amigo”, “arroio”, “cantar”, “ondulam”.
Campo: “plantador”, “pinhais”, “trigo”,”Terra”.
Mar: “naus”, “oceano”, “mar futuro”.

·A fusão das áreas lexicais:

O autor utiliza palavras como “ondulam” e “arroio” quando se refere ao campo, contudo, no sentido real das palavras, estas associam-se ao mar. A fusão das àreas lexicais ocorre quando o autor junta duas realidades diferentes, isto é, quando utiliza os movimentos dos pinhais para falar do movimento do mar, ou quando usa o cantar para falar da busca pelo mar visível na palavra “arroio”.
Arroio pode ser traduzido como regato ou corrente de água.

· O tempo presente na sugestão futuro:

D. Dinis escreveu várias trovas sobre o mar e todos os seus actos têm grande importância para o futuro. Todos os seus actos são como que um perspectivar, anunciar, profetizar de um grande futuro. O futuro será o alargar o território português, isto é, a projecção da nação através de mares: o presente é preparar o império e criar bens e utensílios para poder usufruir desse futuro.

·A simbologia terra/mar no acto de criação:

Este poema referencia os dois ciclos da nossa história: a terra e o mar. A terra conquistada pelos Reis antecessores que nesta altura merecia atenção. D.Dinis foi cognominado de “O Lavrador”, uma vez que foi na agricultura que mais investiu. O pinhal de Leiria foi plantado para impedir que as terras à beira--mar fossem degradadas pela areia do mar e vento. O mar é o futuro. D. Dinis mandou plantar o pinhal para o bem da agricultura, contudo, anos mais tarde, a madeira deste viria a ser utilizada para construir as naus em que partiram os descobridores portugueses. A terra é então uma “voz” no presente que chama pelo futuro, o mar.

· A analogia donzela-terra/amigo-mar:

Esta analogia surge a par de uma característica do Rei Trovador. D. Dinis escreveu cerca de 134 trovas entre elas 51 cantigas de amigo, 73 cantigas de amor e 10 cantigas de escárnio e maldizer. A cantiga de amigo (que é a que interessa neste ponto) é uma trova na qual a donzela fala do amado (amigo), das saudades que este lhe deixou, a vontade de o ver.
Neste sentido, então a terra é a donzela que ama e chama pelo amigo, o mar. Este chamar só viria a ser calado pelos descobrimentos, quando da donzela -terra partiram as naus vagueando e descobrindo o amigo - mar.


● O tema da génese, o sonho concretizado, do crescimento do Império.

A génese do império marítimo acontece verdadeiramente, sem que o Rei tivesse noção disso, com D. Dinis. De facto, se o pinhal de Leiria não existisse, talvez os descobrimentos não tivessem acontecido da mesma forma. Isto significa que existem muitos contributos que, involuntariamente, podem ser decisivos para a construção do Quinto Império, ainda que os seus autores não tenham consciência disso. Para Pessoa o Quinto Império será uma realidade e, supostamente, todos nós de forma mais ou menos consciente vamos dando o nosso contributo para o seu crescimento e concretização.

● A expressividade dos recursos estilísticos utilizados:

1.º Estrofe: A expressão “ ouve um múmuro silêncio consigo” contém um paradoxo/oximoro que realça a atitude meditativa do rei que como profeta, que ao escrever o seu cantar de Amigos profetiza já a aventura marítima dos portugueses. Há um recuo por parte do sujeito lírico no tempo para ouvir com o rei “ o rumor dos pinhais que, como um trigo de Império, ondulam sem se poder ver.” Esta expressão contém uma personificação que sugere que esse sussurrar pressentido por D. Dinis era a fala misteriosa dos pinhais que já ondulavam na imaginação do poeta. Há também uma comparação muito expressiva. Os pinhais contribuíram em larga escala para permitir a expansão portuguesa e esta criaria a riqueza do nosso país. Por outro lado, o trigo é o símbolo de alimento, de poder económico, pois as searas de trigo (cor de ouro) são promessa de riqueza para um país. O “ ondular invisível” contém uma metonímia que deixa já antever a aventura marítima e o império que lhe está associado. Há ainda o animismo visível no “rumor dos pinhais” que parecem ter linguagem própria e inspira o cantar do rei, porque anunciam algo de grande, ainda misterioso.
2.º Estrofe: Há um paradoxo/oximoro visível no “marulho obscuro” dos pinhais que na perspectiva do rei era um pressentimento ainda que obscuro de algo grande que estava para vir. Uma personificação na “falta dos pinhais”e “a voz da terra ansiando pelo mar.” Que põem em destaque o carácter mítico de D. Dinis que é uma espécie de intérprete de uma vontade superior. Há ainda uma metonímia visível no “Arroio, esse cantar”, uma vez que esse cantar era como um regatozinho que procurava o mar por achar. Há também um paralelismo anafórico visível nas expressões “é o som”, “E a voz” que vem dar ênfase mais uma vez á profetização dos descobrimentos. Por fim, há um paradoxo/oximoro: “presente”/ “futuro” e o “mar”/ “terra” pelo qual o futuro está cada vez mais nítido e próximo.


● Aproximações do poema pessoano á epopeica camoniana:

Toda a obra de Fernando Pessoa, “Mensagem”, está imbuída de sensibilidade épica. Este poema é de índole épico-lírico, uma vez que contém características de ambos os géneros. Relativamente à matriz épica é de salientar o tom de exaltação heróica, glorificação e elogio da personagem, e a matéria histórica apresentada que valoriza a cultura. Assim como Camões, Pessoa, glorifica e exalta um povo, sendo neste poema exalta um rei considerado um dos mais importantes da nossa história.
· A justificação para a localização do poema na obra pessoana:
Este poema encontra-se na «Mensagem» pelo seu carácter mítico e cultural. Quando D. Dinis foi proclamado Rei apostou no desenvolvimento do Império. Deu grande impulso à agricultura e às plantações do pinhal de Leiria, que viria a ser extremamente importante para os descobrimentos. A cultura foi um dos seus interesses pessoais, uma vez que foi um grande trovador. É presumivelmente o primeiro Rei Português não analfabeto.
Assim sendo, este poema encontra-se na «Mensagem» porque uma vez que a grandeza dos feitos de uma nação ou personagem importante da sua história são inseparáveis da sua grandeza literária e, também, porque D. Dinis é uma personagem criadora e sonhadora, e a sua capacidade profetizadora do futuro impele o autor a mais uma vez querê-lo na sua obra. Compreende-se que Fernando Pessoa tenha concebido um super Portugal no qual ele seria o seu super poeta. A cultura aqui presente anuncia que: também o Quinto Império será cultural.

· Objecto: Pinheiro:

O pinheiro é símbolo do poema, uma vez que foi esta a árvore plantada em Leiria a mando de D. Dinis e foi da madeira dela que se construíram as primeiras naus. O pinheiro é também símbolo do avanço de Portugal, não só pela agricultura, como pelos descobrimentos. Assim, Portugal teve de germinar a partir da semente, uma partícula muito pequena, mas que ao fim de muitos anos cresceu e deu frutos para que o mesmo ciclo se repita vezes sem conta, cada vez mais forte...

· Música: Remar, Remar

Autoria: Tim;
Cantada por: Xutos e Pontapés
Remar RemarMares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde-escuroAs ondas que te empurramAs vagas que te esmagamContra tudo lutasContra tudo falhas
Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Nada me dizem
Berras às bestasQue re sufocamEm braços viscososCheios de pavorEsse frio surdoO frio que te envolveNasce na fonte
Na fonte da dor
Remar remarForca a correnteAo mar, ao marQue mata a gente

Esta música associa-se ao poema pelo seu tema. Apesar de D. Dinis não estar directamente associado ao mar e aos descobrimentos, o resultado dos seus actos está. Deu importância á terra e criou condições para que se pudessem realizar os descobrimentos…

Grupo II
Alexandrina; Aloísio; André; Carlos e Rui Pedro

1 comentário:

Unknown disse...

Olá.
Eu gostava de ter uma explicação para o paradoxo existente no verso "É o som pressente desse mar futuro/É a voz da terra ansiando pelo mar" e da metonímia no verso "Arroio, esse cantar, jovem e puro,/Buscar o oceano por achar"
Obrigado :)